Influência do regime castrista se amplia nas Forças Armadas
“Bem-vindos a Cuba”. O grafite, pintado numa das paredes do charmoso Paseo Las Mercedes, em Caracas, não poderia parecer mais extemporâneo.
Na verdade, às vezes até é encoberto por gigantes caminhonetes 4x4 que transitam a toda velocidade pelo passeio graças à gasolina subsidiada pelo governo venezuelano.
No entanto, Cuba e Venezuela se fundem cada vez mais. Os sinais estão por toda parte, como nos momentos em que o presidente Hugo Chávez se sente ameaçado pela presença de tropas dos EUA na Colômbia ou na insatisfação popular pela desvalorização da moeda e pelos cortes de luz. Por Leandro Uría - Enviado especial do La Nacion*
Mas essa tendência é especialmente evidente no meio militar.
— Altos quadros das milícias nacionais bolivarianas viajaram até Cuba para se formar. E observadores venezuelanos estiveram em Cuba, interessados na resistência popular dos cubanos — disse ao “La Nacion” Rocío San Miguel, especialista em defesa.
As milícias bolivarianas foram criadas por Chávez em 2008 a fim de preparar a população para a defesa militar do país, em caso de um conflito bélico.
Enquanto isso, Cuba deu ontem um passo significativo no processo de regularização de armas de fogo em poder de civis: os cidadãos terão dois meses para registrá-las junto à Polícia Nacional Revolucionária.
Também existe a versão, nunca confirmada oficialmente, de que o coronel Ramón Carrizález — que renunciou há poucos dias aos cargos de vice-presidente e ministro da Defesa da Venezuela — deixou o governo porque Chávez teria querido nomear generais cubanos nas Forças Armadas. Não se sabe se as nomeações serão concretizadas.
Entretanto, o Exército local poderia, sim, incorporar suboficiais cubanos se eles se formassem num instituto militar venezuelano.
Privilégios às milícias teriam irritado ex-vice-presidente
Também teria aborrecido Carrizález a tentativa de Chávez de privilegiar cada vez mais as milícias bolivarianas e de converter as Forças Armadas no braço armado da revolução, por meio de uma “politização exacerbada”, segundo Rocío San Miguel.
— A cubanização das forças venezuelanas começa com a adoção imitativa do lema “Pátria, socialismo ou morte”. Por trás dessa frase, há um conteúdo ideológico de unificação com as forças cubanas — disse Omar Noria, professor das universidades Simón Bolívar e Central, acrescentando que a cubanização se completa “com um pacto de não agressão e a possibilidade de trabalhar junto” com os colombianos ELN e Farc.
O especialista disse ainda que o Departamento de Segurança do Estado cubano (G2) já controla a inteligência no país, os registros civis e de cartório e o sistema de emissão de documentos e identificação, situação que provoca uma irritação inédita entre os chefes militares venezuelanos.
Os serviços cubanos inclusive supervisionam a segurança de Chávez, diz Noria. Sabe-se que os espiões cubanos, famosos por salvarem Fidel Castro de inúmeros atentados, recomendaram ao presidente venezuelano que dormisse cada noite num lugar diferente, o que seria seguido à risca.
A essa altura, a relação parece ir além do acordo no qual Caracas enviaria 100 mil barris de petróleo diários a Cuba, em troca de médicos ou professores.
E Chávez, que se veste cada vez mais de verde oliva, como Castro, apareceu em seu programa “Alô, presidente” com Joaquín García Salabarría, vice-ministro da Saúde de Cuba.
Mas não só a saúde, a educação ou o Exército são campos de cubanização: o mesmo ocorre com a comunicação.
Para o analista Antonio Pasquali, o verdadeiro ministro da Comunicação da Venezuela é Ramiro Valdez, que ocupa esse cargo em Cuba. Valdez vende rádios comunitárias ao império multimídia chavista (são centenas): — Vende as rádios à Venezuela e põe um cubanito em cada uma para não haver divergências ideológicas.
Mas talvez não haja um exemplo mais eloquente da cubanização do que a atual crise de energia. Quem sai à noite pela avenida Urdaneta, que passa exatamente em frente ao Palácio de Miraflores, a casa do governo, e olha ao longe os edifícios às escuras parece ver, na verdade, imagens sobrepostas de Caracas e Havana. O Globo
“Bem-vindos a Cuba”. O grafite, pintado numa das paredes do charmoso Paseo Las Mercedes, em Caracas, não poderia parecer mais extemporâneo.
Na verdade, às vezes até é encoberto por gigantes caminhonetes 4x4 que transitam a toda velocidade pelo passeio graças à gasolina subsidiada pelo governo venezuelano.
No entanto, Cuba e Venezuela se fundem cada vez mais. Os sinais estão por toda parte, como nos momentos em que o presidente Hugo Chávez se sente ameaçado pela presença de tropas dos EUA na Colômbia ou na insatisfação popular pela desvalorização da moeda e pelos cortes de luz. Por Leandro Uría - Enviado especial do La Nacion*
Mas essa tendência é especialmente evidente no meio militar.
— Altos quadros das milícias nacionais bolivarianas viajaram até Cuba para se formar. E observadores venezuelanos estiveram em Cuba, interessados na resistência popular dos cubanos — disse ao “La Nacion” Rocío San Miguel, especialista em defesa.
As milícias bolivarianas foram criadas por Chávez em 2008 a fim de preparar a população para a defesa militar do país, em caso de um conflito bélico.
Enquanto isso, Cuba deu ontem um passo significativo no processo de regularização de armas de fogo em poder de civis: os cidadãos terão dois meses para registrá-las junto à Polícia Nacional Revolucionária.
Também existe a versão, nunca confirmada oficialmente, de que o coronel Ramón Carrizález — que renunciou há poucos dias aos cargos de vice-presidente e ministro da Defesa da Venezuela — deixou o governo porque Chávez teria querido nomear generais cubanos nas Forças Armadas. Não se sabe se as nomeações serão concretizadas.
Entretanto, o Exército local poderia, sim, incorporar suboficiais cubanos se eles se formassem num instituto militar venezuelano.
Privilégios às milícias teriam irritado ex-vice-presidente
Também teria aborrecido Carrizález a tentativa de Chávez de privilegiar cada vez mais as milícias bolivarianas e de converter as Forças Armadas no braço armado da revolução, por meio de uma “politização exacerbada”, segundo Rocío San Miguel.
— A cubanização das forças venezuelanas começa com a adoção imitativa do lema “Pátria, socialismo ou morte”. Por trás dessa frase, há um conteúdo ideológico de unificação com as forças cubanas — disse Omar Noria, professor das universidades Simón Bolívar e Central, acrescentando que a cubanização se completa “com um pacto de não agressão e a possibilidade de trabalhar junto” com os colombianos ELN e Farc.
O especialista disse ainda que o Departamento de Segurança do Estado cubano (G2) já controla a inteligência no país, os registros civis e de cartório e o sistema de emissão de documentos e identificação, situação que provoca uma irritação inédita entre os chefes militares venezuelanos.
Os serviços cubanos inclusive supervisionam a segurança de Chávez, diz Noria. Sabe-se que os espiões cubanos, famosos por salvarem Fidel Castro de inúmeros atentados, recomendaram ao presidente venezuelano que dormisse cada noite num lugar diferente, o que seria seguido à risca.
A essa altura, a relação parece ir além do acordo no qual Caracas enviaria 100 mil barris de petróleo diários a Cuba, em troca de médicos ou professores.
E Chávez, que se veste cada vez mais de verde oliva, como Castro, apareceu em seu programa “Alô, presidente” com Joaquín García Salabarría, vice-ministro da Saúde de Cuba.
Mas não só a saúde, a educação ou o Exército são campos de cubanização: o mesmo ocorre com a comunicação.
Para o analista Antonio Pasquali, o verdadeiro ministro da Comunicação da Venezuela é Ramiro Valdez, que ocupa esse cargo em Cuba. Valdez vende rádios comunitárias ao império multimídia chavista (são centenas): — Vende as rádios à Venezuela e põe um cubanito em cada uma para não haver divergências ideológicas.
Mas talvez não haja um exemplo mais eloquente da cubanização do que a atual crise de energia. Quem sai à noite pela avenida Urdaneta, que passa exatamente em frente ao Palácio de Miraflores, a casa do governo, e olha ao longe os edifícios às escuras parece ver, na verdade, imagens sobrepostas de Caracas e Havana. O Globo
Um comentário:
Apenas quero ver no que vai da essa fusão de Cuba e Venezuela.
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