OS MORTOS DO RIO E A “REVOLUÇÃO” DOS ASQUEROSOS

“Nunca antes na história do Rio…”
“O Rio vive uma revolução…”
“O Rio…”

E, no entanto, o Rio…

Não! Não farei como certo esquerdismo bocó fazia no tempo em que seus adversários estavam no poder. Não reconheciam nada de bom no país, e as mazelas eram apresentadas como o “Brasil real” — como se as coisas boas que inegavelmente havia e há não fossem “reais”. Sim, há avanços no Rio. Há avanços reais no Brasil porque é o mínimo que se espera dos governos. Ou será que precisamos deles apenas para que torrem a nossa paciência?

Mas também há mazelas que nenhuma propaganda deveria tentar esconder. Na sua paixão por atos inaugurais — não confundir com inaugurações —, o lulo-petismo e a sua periferia, de que faz parte o “cabralismo”, exerciam um discurso de tal maneira “exultório” que, ao conjunto dos brasileiros, parece surpreendente que ainda houvesse centenas de pessoas morando sobre um lixão. E com pleno conhecimento das autoridades, como atestam as “benfeitorias” que já haviam chegado ao local. Por Reinando Azevedo

Vitrine do proselitismo

O Rio foi, durante boa parte do governo Lula, especialmente no segundo mandato, a vitrine do proselitismo. E com uma propaganda feita num tom muitas vezes acima do que seria, vá lá, decoroso. Obras incluídas na marca-fantasia do PAC foram inundadas. De súbito, toda aquela algaravia propagandística cede ao tom pesaroso. Que saída? Mas novos amanhãs são anunciados, com a miséria servindo uma vez mais de trampolim.

Há pouco, ouvi no rádio uma entrevista de Sérgio Cabral. Cabral é aquele governador que chora quando lhe tentam tomar parte da grana dos royalties do petróleo, que convoca um movimento cívico de protesto, mas que é de uma solidariedade burocrática diante de, tudo indica, centenas de mortos. Aproveitou para fazer propaganda do programa “Minha Casa, Minha Vida”, que, todos sabem, não vai entregar aquele milhão de casas prometido.

E isso nos leva à pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Chuvas do Rio Grande do Sul? Dilma estava atenta e deitando falação, deixando no ar a suspeita de que a governador Yeda Crusius não estava sendo tão diligente quanto poderia. Enchentes em São Paulo? Dilma houve por bem fazer exploração eleitoreira dos 78 mortos, numa população de mais de 40 milhões, ao longo de 47 dias de temporais ininterruptos. Façam um teste: entrem no Google e coloquem lá as palavras “Dilma, enchentes, São Paulo” (sem as aspas), e vocês verão o resultado. O PT praticamente anunciou que o tema seria explorado no horário eleitoral.

E sobre o Rio? Sobre o Rio, vitrine do proselitismo lulo-dilmista, a agora pré-candidata se cala. Prefere sair por aí a falar de lobos e cordeiros, recitando, diz ela, a Bíblia, só que lida com os cotovelos. Não era um livro muito influente na VPR ou na VAR-Palmares…

Culpas

Não! Não estou culpando este ou aquele pela tragédia. Isso é prática deles lá… Estou apenas chamando a atenção para a forma desavergonhada como manipulam as tragédias. A de São Paulo, muitas vezes menor, serviu para que atacassem a oposição. A do Rio, incrivelmente, serve para que falem bem de si mesmos. É asqueroso! E que Deus preserve o Rio de 47 dias de temporais ininterruptos. Ou teremos de constatar o horror que os homens foram fazendo ao longo desses anos — INCLUSIVE AO LONGO DOS ÚLTIMOS SETE ANOS!!!

O que me deixa espantado é essa gente não se sentir constrangida por um decoro mínimo nem diante da insofismável expressão do horror. Muitos morreram, famílias foram dizimadas, milhares juntam num saco plástico o que lhes restou. E “eles” lá, como sempre, caçando votos, engrolando desculpas e transferindo responsabilidades.