Nombre: Hernandez Rivas Elkin
Ocupación: Teniente de la Policía Nacional
País del secuestro: Colombia
Municipio del secuestro: Paujil
Grupo autor del secuestro: FARC
Fecha del secuestro: 13-10-1998
Tiempo de cautiverio: 12 aos
Por Augusto Nunes - Veja Online
Ele não dorme numa cama há quase 12 anos. Atravessa as noites acorrentado pelo pescoço, pelos braços ou pelas pernas a um tronco de árvore, com o corpo estendido sobre uma camada de plástico fino como o dos sacos de lixo, sem proteção contra picadas de insetos ou ataques de animais da selva. Não vê televisão, não usa computador, não lê revistas nem jornais há 143 meses. Está proibido de manter relações sexuais há mais de 4 mil dias. Sequestrado pelas Farc em 13 de outubro de 1998, Elkin Rivas sobrevive há quase 100 mil horas ao mais brutal dos cativeiros.
Ele tinha 22 anos e era tenente da polícia colombiana quando foi capturado sem ter cometido qualquer crime e sentenciado, sem julgamento formal, a um tipo de castigo que não tem prazo para terminar. Aos 34, não sabe quando ou se retomará a vida interrompida. Enquadrado na categoria dos “reféns políticos”, Elkin é um dos 13 remanescentes do grupo cuja soltura as Farc condicionam ao indulto de 500 narcoterroristas que cumprem pena em presídios federais.
O governo de Álvaro Uribe recusou a troca em 2007, quando os cativos eram 60 e havia entre eles a ex-candidata à presidência Ingrid Betancourt, senadores, um general, deputados e três agentes americanos. É improvável que o presidente Juan Manuel Santos aceite um acordo agora que só restaram oficiais de baixa patente. Só uma operação militar poderá devolver a Elkin o direito de ir e vir. Mas nada lhe devolverá o que perdeu além da liberdade.
Perdeu para sempre, por exemplo, os melhores anos da mocidade. Não pôde namorar, casar-se, ter filhos, conversar com amigos, conviver com a família, ir ao cinema, dançar, jogar futebol, comer o prato preferido, comemorar aniversários ─ foram-lhe confiscados esses e tantos outros pequenos prazeres inseparáveis do ato de viver. E perdeu o direito de contemplar as mudanças ocorridas na paisagem mundial.
Se o tempo na selva escorreu com apavorante lentidão, o planeta mudou de século e de cara entre o outono de 1998 e o inverno de 2010. Enquanto perdia a saúde para as doenças da selva, enquanto perdia as energias em extenuantes caminhadas na mata, Elkin perdeu a chance de testemunhar o que aconteceu longe da selva. A Colômbia realizou três eleições presidenciais, alguns países nasceram e outros morreram, as Torres Gêmeas sumiram, os Estados Unidos se envolveram em três guerras e elegeram um presidente negro, um cardeal alemão tornou-se papa.
A China se transformou na segunda potência, um homem correu 100 metros em 9 segundos e 58 milésimos, Plutão deixou de ser planeta, descobriu-se que existe água em Marte e na Lua. Houve três Olimpíadas, três Copas do Mundo, o enforcamento de Saddam Hussein, o tsunami no Pacífico, o terremoto no Haiti, a troca de Fidel Castro pelo irmão Raúl. A União Européia adotou o euro como moeda padrão, a Voyager ultrapassou as fronteiras do sistema solar, o dialeto do universo digital incorporou à linguagem corrente expressões, palavras e siglas como pen-drive, Orkut, iPod, Wikipédia, Youtube, iPhone, Twitter, Facebook ou Google.
Só não perdeu a esperança por não ter perdido a mãe, Magdalena Rivas, que há quase 12 anos impede que o filho seja vencido pelo medo do esquecimento. Entre os muitos pavores que escoltam permanentemente um refém, nenhum é tão angustiante. “O governo não tem de lembrar dos que continuam no cativeiro”, repetiu Magdalena em 6 de junho, depois de receber a prova mais recente de que o filho continua vivo: num vídeo, Elkin diz que está bem e pede desculpas aos pais “pelo sofrimento que causou”.
Em julho, Magdalena animou-se com a bem sucedida operação que resgatou o general Luis Mendieta, o coronel Enrique Murillo, o capitão Willian Donato e o sargento Arbey Delgado. Mas logo foi assaltada pela hipótese aflitiva: “Essa gente pode agir em represália contra os sequestrados”, assustou-se. “Eles continuam lá, acorrentados, numa situação que uma mãe não consegue entender”.
O presidente Hugo Chávez não só compreende como aprova, apoia e financia os carcereiros. Denunciado por Álvaro Uribe por hospedar 1.500 narcoterroristas, Chávez primeiro tentou desmentir o crime copiosamente documentado, depois rompeu relações com a Colômbia e enfim admitiu a existência das bases em território venezuelano, mas se declarou inocente. Neste fim de semana, voltou a fingir-se interessado na libertação dos reféns cujo cativeiro patrocina.
“O Brasil tem uma posição neutra sobre as Farc”, disse ao jornal francês Le Figaro o conselheiro presidencial Marco Aurélio Garcia. Como se fizesse sentido a neutralidade que iguala um governo constitucional e uma organização narcoterrorista. O presidente Lula faz de conta que desconhece o desafio armado reiterado pelas Farc desde 1964. “Nós não temos guerras neste continente”, viajou o chefe de governo ao candidatar-se a mediador da crise que envolve a Colômbia e a Venezuela. “Só existem conflitos verbais”, decretou. São declarações deploráveis, retrucou Uribe.
O adjetivo é brando. Como advertiu o presidente colombiano, quem não enxerga nas Farc uma ameaça intolerável à democracia é, na hipótese mais misericordiosa, comparsa de liberticidas e cúmplice de carrascos. Se não há guerra, como fantasia Lula, não há prisioneiros de guerra. Os elkins acorrentados na selva, portanto não existem.
Entre 1998 e 2010, o governante sessentão saboreou os melhores anos da vida, oito dos quais desfrutados no coração do poder. É demais cobrar compaixão de quem não sabe o que é isso. Mas os homens decentes devem exigir de um chefe de governo que pelo menos renuncie ao cinismo.
3 comentários:
E o PT apoia um grupo assassino deste.
Quando li essa matéria, pensei nos meus filhos. Fui dormir angustiada querendo fazer alguma coisa, e podemos fazer! Copiem e repassem a todos de sua lista, um começo para poder justificar a sua existência.
Angustiante, é o mínimo que encontro para escrever.
Para mudar tudo isso, pensam em eleger José SSerra, que não recordo de alguma vez ter denunciado as FARC, Chavéz, Fidel Castro e suas prisões, ou mesmo Coréia do Norte.
Para mudar tudo isso, só mesmo virando a mesa, só modificando radicalmente tudo que está ai e isso é uma utopia com esses três candidatos.
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