Quase no final da matéria, o jornalista Augusto Nunes, colocou dois vídeos para conhecimento do nosso "cristão" de 24 horas. Eu não consegui ver. É chocante demais....Porém, é preciso mostrar a quem Lula chama de "querido amigo". MOVCC/Gabriela
Por Augusto Nunes - Veja Online
Em maio, durante a chanchada protagonizada pelo presidentes do Irã, do Brasil e da Turquia, Mahmoud Ahmadinejad resumiu os motivos que o fizeram associar-se ao clube dos amigos de infância de Lula. “Gostaria de agradecer mais uma vez ao meu grande amigo pela perspectiva independente e muito otimista que ele tem para as relações mundiais com base na justiça e na amizade”. Sempre que o filhote mais perigoso dos aiatolás fala em justiça e amizade, deve-se deduzir que o estoque de urânio enriquecido acrescentou algumas toneladas. Lula acredita.
Neste sábado, durante o comício em Curitiba, Lula aproveitou o caso de Sakineh Muhammadi Astiani para, simultaneamente, posar de misericordioso, caçar votos para Dilma Rousseff e festejar o caso passional entre Brasília a Teerã. “Já que minha candidata é uma mulher eu queria fazer um apelo a meu amigo Ahmadinejad, ao líder supremo do Irã e ao governo do Irã”, caprichou na redundância. “Se vale a minha amizade e o carinho que eu tenho pelo presidente do Irã e pelo povo iraniano, se essa mulher está causando incômodo, nós a receberíamos no Brasil de bom grado”.
Três dias depois de endossar o apedrejamento, o palanqueiro desconfiou de que seria mais lucrativo eleitoralmente candidatar-se a hospedeiro de Sakineh. Excitado pelos aplausos, o animador de auditório foi em frente. “A traição lá tem um tipo de pena que é enterrar a mulher viva e deixar a cabeça para fora para o povo jogar pedra”, resumiu a introdução da piada: “Fico imaginando se um dia tivesse um país do mundo que se o homem trair fosse apedrejado. Eu queria saber quem é que ia gritar: atire a primeira pedra aquele que não traiu”, terminou a frase cantarolando.
O sorriso do animador ordenou ao auditório que achasse aquilo engraçado. Os devotos riram da brincadeira macabra. Enquanto um lado do rosto de Dilma Rousseff se deslumbrava com o humor do Mestre, o outro reverenciava o monumento à clemência. “A atitude do presidente tem uma importância significativa para todas as mulheres “, recitou. “Mais uma vez, Lula pregou o diálogo”. Faltou combinar com os aiatolás, descobriram nesta terça-feira o dono do circo e a trapezista.
Ao saber da discurseira em Curitiba, Ahmadinejad escalou para a resposta um certo Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria iraniana. “Até onde sabemos, Da Silva é uma pessoa muito humana e emotiva, que provavelmente não recebeu informações suficientes sobre o caso”, disse o funcionário do terceiro escalão. Referindo-se ao destinatário do recado pelo sobrenome, prometeu que o governo iraniano vai explicar a Lula que Sakineh é “uma criminosa condenada”.
De onde menos se espera é que não vem nada mesmo, comprovou a reação subalterna. Em vez de solidarizar-se altivamente com Sakineh, e reiterar a disposição de cumprir a promessa esboçada no palanque, começou a preparar a rendição. Num dos intervalos da reunião de cúpula do Mercosul em San Juan, na Argentina, primeiro fingiu enxergar um afago no que foi uma cotovelada: “Eu fico feliz que o ministro do Irã tenha percebido que eu sou um homem emocional. Eu sou muito emocional”. Em seguida, desqualificou o que havia chamado de “apelo”: “Eu não fiz um pedido formal de asilo. Eu fiz um pedido mais humanitário”.
A trajetória errática do falatório denunciou o constrangimento provocado pela ríspida mensagem de Ahmadinejad. Começou batendo no cravo: “Pelo que se fala na imprensa, ou ela vai morrer apedrejada ou enforcada, ou seja, nenhuma das duas mortes é humanamente aceitável. Obviamente, se houver disposição do Irã em conversar, nós teremos imenso prazer em conversar e, se for o caso, trazer essa mulher para o Brasil”.
E então bateu na ferradura: “Sobre a questão dos direitos humanos no Irã, eu não conheço profundamente como funciona o Irã, o que sei é que cada país tem a sua lei, tem a sua Constituição, a sua religião. E nós precisamos, concordando ou não, aprender a respeitar o procedimento de cada país. Acho que, se nós aprendêssemos a respeitar a soberania de cada país, seria muito melhor”. Nem mesmo um campeão da hipocrisia se atreveria a chamar Ahmadinajad de “amigo querido” se soubesse como funcionam as coisas no Irã. Muito menos ousaria defender a preservação de códigos medievais e inacreditavelmente sórdidos.
Caso queira saber o que faz o bom companheiro, basta ao presidente conferir os dois vídeos alojados na seção História em Imagens. As cenas fortíssimas podem ultrapassar os limites do suportável. Lula merece ser obrigado a vê-las e dizer o que acha. Se não ficar espantado, estará provado que, se o monarca de cordão carnavalesco tivesse sido imperador, mandaria prender quem se opusesse às leis que pretendiam eternizar a escravidão. Como só chegou ao poder muito mais tarde, os homens lúcidos daqueles tempos escaparam do que sobrou para os brasileiros deste começo de século.
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