Por Reinaldo Azevedo - Veja Online
O senador Aloizio Mercadante é mesmo um portento moral. Este gigante está tentando sair da eventual linha de tiro nessa história da quebra dos sigilos, que destinaram à feitura de um dossiê fajuto. Mais um. Como sabem, o dossiê dos aloprados visava a atingir a candidatura de Serra ao governo de São Paulo, em 2006. Seu adversário no PT era… Aloizio Mercadante! O homem que carregava a mala de dinheiro para pagar a canalha era braço direito de… Mercadante. Se a falcatrua tivesse prosperado, o beneficiado teria sido Mercadante! Mas é, com certeza, um absurdo a gente supor que Mercadante pudesse ter algo a ver com aquilo, certo? Hoje ele disse: “Fui inocentado pelo Ministério Público e pelo STF. Foi provado que eu não tive nenhuma participação”.
Vamos corrigir a linguagem do senador. Não é verdade que tenha sido “provado” que ele “não teve nenhuma participação”. Não se provou a sua participação. Como sabem os muitos advogados e juristas que me lêem — felizmente!—, são coisas diferentes, muuuito diferentes. Collor pode-se dizer “inocentado” pelo STF. O tribunal não encontrou um ato de ofício — algo que ele tenha feito no exercício do cargo ligando-o diretamente às estripulias de PC Farias — que justificasse a sua condenação.
O debate é longo no campo do direito. Devemos ser um pouco menos severos com essa história do ato de ofício, punindo certamente mais larápios, mas abrindo as portas para o risco da condenação meramente política? Deve ficar tudo como está, e pessoas obviamente ligadas à lambança acabam escapando? Vamos pensar no caso Francenildo.
O chefão da Caixa Econômica Federal, subordinado a Antonio Palocci, invadiu o sigilo bancário de Francenildo Pereira e o entregou ao chefe — interessado que estava em tentar destruir a reputação do caseiro. Mattoso disse que obedeceu ordens de Palocci? Não! Palocci confessou que deu a ordem? Não! Alguma evidência material de que tenha dado a ordem? Não! Então Palocci é… “inocente”. Entenderam?
Assim, Mercadante é tão inocente no caso dos aloprados quanto Palocci é inocente no caso Francenildo. O que a excelência acha disso? É bom lugar eu colocá-lo ao lado de um outro “inocente” do PT, certo?
Fala e caráter
Prestem agora atenção à forma como Mercadante resolveu defender Verônica Serra:
“Filhos não podem responder pela conduta de seus pais e deveriam ser intocáveis. Na primeira vez que o nome dela foi mencionado no Senado, eu subi à tribuna e condenei esse tipo de conduta”.
A fala seria de uma espantosa boçalidade não fosse um problema de caráter.
1 - Verônica não está respondendo por nada porque se trata da ação de bandidos;
2 - Mercadante acha que Verônica está pagando, então, injustamente pela “conduta” de Serra. Ele não acha injusta a invasão do sigilo; ele só lamenta que seja o dela, não o do pai;
3 - qual é a “conduta” do pai que mereceria, então, uma invasão de sigilo, praticado pela bandidagem?
Trata-se de uma fala imoral na sua essência. Na idade em que está Mercadante, 56, é tarde demais para aprender algumas coisas e tarde demais para esquercer outras tantas. A essa altura da vida, o que há de bom e de ruim no caráter de uma pessoa só se acentua.
A síntese da fala deste grande homem, deste reformador do mundo, é a seguinte: “Tudo bem fazer essas coisas com o Serra, mas não com a filha”. Ou ainda de modo mais geral: “O problema não está na invasão do sigilo, no banditismo; o problema está em terem escolhido a pessoa errada”. É mais ou menos a lógica do sujeito que acha legítimo espancar a mulher, mas não em público porque seria falta de educação.
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