O tumor localizado na Receita Federal ameaça a sobrevivência do estado de direito

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Introduzo na poesia a palavra diárreia, não pela palavra fria, mas pelo que ela semeia, avisa Ferreira Gullar nos primeiros versos de A Bomba Suja. Reintroduza-se na política a palavra honestidade, antes que morra de vez o conjunto de valores que a palavra enfeixa. Ela está tão claramente em desacordo com o vocabulário político atual quanto a palavra mencionada por Gullar parecia dissonante do universo da poesia.

A falsificação da assinatura de Verônica Serra na procuração entregue à Receita Federal é uma agressão ultrajante ao Brasil honesto. É também a prova definitiva de que o vale-tudo eleitoreiro expandiu perturbadoramente as fronteiras do atrevimento.

Se os donos do poder não respeitam sequer a filha de um candidato à Presidência da República, é evidente que as instituições estão novamente em frangalhos. Ou o país reage agora ou a Constituição será substituída pelo manual do banditismo. O governo que se gaba da invenção da justiça social vai revogando os códigos que orientam a Justiça sem adjetivos. O amor à verdade virou coisa de otário. Pode acabar reduzido a crime.

Secretaria da Receita Federal não é umo empresa privada, muito menos um ente autônomo. É um órgão da administração federal, subordinado ao Ministério da Fazenda. Ninguém é nomeado para o comando do Fisco sem o aval do chefe de governo. Conduzida por especialistas no assunto até a nomeação de Lina Vieira, foi primeiro aparelhada pelo PT e depois transformada em acampamento de gatunos e extorsionários.

O escândalo não se limita ao mafuá de Mauá. O tumor vislumbrado na Receita Federal cresce nos intestinos do Executivo e ameaça a sobrevivência do estado de direito. Os brasileiros decentes têm de reagir às ações criminosas com a indignação enfim exibida por José Serra. O chefe de família manifestou-se com a veemência que tem faltado ao chefe da oposição. A OAB, a ABI e outras siglas que viviam com a Bic na mão, prontas para engrossar até um abaixo-assinado contra o guarda da esquina, precisam recuperar a altivez e a voz.

É preciso silenciar imediatamente a conversa fiada do presidente da República, represar as infâmias despejadas pelo presidente do PT, rebater as mentiras desfiadas pela candidata a presidente. O histórico do caso de estupro fiscal informa que, a cada descoberta da imprensa, outro crime é cometido para ocultar os anteriores. O Ministério Público e o Poder Judiciário têm de provar que existem.

O combate à corrupção ainda não conseguiu espaço na campanha eleitoral. O que já foi caso de polícia pode acabar promovido a case político. É hora de resgatar expressões banidas da linguagem dos palanques pelo cinismo endêmico. A primeira da lista é a palavra honestidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Penso que essa procuracao foi criada dentro da Receita petralha.