É parte do jogo e do preço. O PT abriu mão de concorrer ao Senado em vários estados e fez acordo com os peemedebistas onde pôde para eleger Dilma Rousseff — era essa a prioridade. Sabia que estava alimentando o monstro, mas decidiu pagar o preço.
O PMDB, tomado de ardor patriótico, no intuito de, como afirmou um deles, colaborar com o governo da presidente Dilma Rousseff, decidiu formar um blocão na Câmara. Vai se juntar a PP, PR, PSC e PTB: 202 deputados no total. “Vamos atuar sempre em conjunto, para ajudar a Dilma. Vamos estar sempre alinhados aqui [na Câmara] e fora”, disse à Folha Online Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), espécie de emblema desse tipo de patriotismo a que se dedicam os peemedebistas. Ele próprio é candidato a presidir a Câmara, cargo também ambicionado pelos petistas Cândido Vaccarezza (SP), João Paulo Cunha (SP), Arlindo Chinaglia (SP)e Marco Maia (RS).
Além da Presidência da Câmara, outro cargo opõe peemedebistas e petistas: a Presidência do Senado. A regra informal da Casa é que o posto cabe à maior bancada — no caso, o PMDB. O PT quer um revezamento ali também. A turma de Renan Calheiros (AL) e José Sarney (MA) — nesse caso, aquele tal patriotismo atinge o estado da arte — já avisou: “Nem pensar!”
Essa será uma constante. Sempre que puder, o PMDB vai encostar a faca no pescoço dos petistas para negociar ou fazer negócio. É parte do jogo e do preço. O PT abriu mão de concorrer ao Senado em vários estados e fez acordo com os peemedebistas onde pôde para eleger Dilma Rousseff — era essa a prioridade. Sabia que estava alimentando o monstro, mas decidiu pagar o preço. Ora, tudo somado e, sobretudo, dividido, é claro que, para os petistas, acabou saindo barato. Ainda que seja obrigado a ceder boa parte dos anéis — e até alguns dedos — a seus “parceiros”, conservou o essencial. Sem o PMDB, a empreitada de Dilma Rousseff teria sido muito difícil. E os petistas?
Se o PT for pescar apenas no lado dos ditos “progressistas” — PC do B, PSB e PDT —, a vida vai ficar difícil. É aí que alguém se lembrará da mirrada oposição: PSDB, DEM e PPS. Os oposicionistas realmente estarão numa situação interessante. Talvez sejam até menos necessários ao blocão já formado do que ao PT, que precisa de aliados circunstanciais contra o seu sócio permanente: o PMDB. Nesses momentos, o petismo sempre comparece com seu suposto apuro ético, que seria superior no confronto com peemedebistas. Alguém acredita nisso?
A lógica formal pode pouco nessas horas. Na distribuição dos cargos da mesa, a chance de as oposições acabarem caminhando com o bloco liderado pelo PT é grande. Pode parecer um bom negócio no curto prazo, mas certamente é uma má escolha no longo. “Qual é a boa alternativa, Reinaldo?” Como diria Manuel Bandeira, a saída é dançar um tango argentino… Como não resolve, e uma escolha terá de ser feita, deixar o PT mais fraco sempre será do interesse de um não-petista — e as oposições são não-petistas.
Como o cimento da aliança dos dois gigantes é um problema que lhes diz respeito, aos oposicionistas cabe alimentar a desavença, desagradando sempre ao PT. Mas, reitero, a política no Congresso nem sempre se move pela lógica formal. Acaba sempre havendo racionalização para tudo: “ah, a agente se junta ao PT e arranca concessões deles”; “melhor o PT, apesar de tudo, do que o PMDB daquela turma”. E vai por aí… Seja qual for a conta, melhor será sempre um PT mais fraco. Afinal, são muitos os PMDBs para um só petismo.
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