Índice de reprovação na 2ª fase de exame opcional do Cremesp tem pior resultado
Karina Toledo - O Estado de S.Paulo
Apenas 16% dos 533 formandos em Medicina que fizeram o último exame do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) foram aprovados. Embora o desempenho na primeira fase tenha sido ligeiramente superior ao do ano passado (a aprovação passou de 40% para 57%), o índice de reprovação na segunda fase subiu de 4% para 68% - pior resultado desde a criação da prova. Além disso, a média geral em áreas básicas, como Clínica Médica e Obstetrícia, ficou abaixo da nota de corte (60%).
Vítima. Renato Santos foi medicado de forma errada
Para Braulio Luna Filho, coordenador do exame, a piora pode ser explicada pela mudança no perfil dos participantes e das questões de segunda fase. Neste ano, houve menor adesão dos formandos de escolas mais tradicionais. "A prova também teve grau de dificuldade maior", diz.
Apesar das ressalvas, o vice-presidente do Cremesp, Renato Azevedo, considera o resultado preocupante. "A prova exige o mínimo de conhecimento que alguém que quer exercer a Medicina precisa ter."
Os resultados mostram que a maioria desconhece diagnóstico e tratamento de problemas comuns, como sífilis, tuberculose e doenças cardíacas. O Cremesp os atribui à abertura indiscriminada de cursos, muitos sem infraestrutura. E defende um exame nacional unificado e obrigatório, sem o qual o médico não obteria licença. "Ninguém é reprovado nas faculdades de Medicina. Mesmo quem não tem condições técnicas e humanas."
Embora o presidente da Associação Paulista de Medicina, Jorge Curi, concorde com a necessidade da criação de uma avaliação, ele defende que ela ocorra ao longo de todo o curso. "Não dá para, depois de a família gastar uma fortuna, você simplesmente dar a notícia de que o estudante não pode ser médico."
Para o coordenador de Ensino e Graduação do curso da Unicamp, Wilson Nadruz Júnior, os resultados do exame do Cremesp não representam a qualidade do ensino de Medicina em São Paulo. "Contrariam o desempenho que observo nas provas de seleção para residência, que é muito bom. Além disso, é uma amostra pequena", diz.
Os 533 que realizaram o exame deste ano correspondem a 23% dos 2,3 mil alunos que se formam por ano no Estado de São Paulo. O número de inscritos vem caindo desde 2007 - quando participaram 833 estudantes.
Descaso. "Um dia de descanso" e uma injeção de anti-inflamatório foram as recomendações médicas que Renato de Lima Santos, de 28 anos, recebeu ao chegar ao hospital com febre, tremedeiras, dores musculares e de cabeça. Sem melhoras, ele voltou ao hospital e foi diagnosticado com dengue por outro profissional. Ele afirma que, apesar dos sintomas, o médico que o atendeu primeiro "não fez nada". "Nem mediu a febre. O pior é que ele me receitou um remédio que não deve ser tomado em casos de dengue. Já pensou no perigo que eu corri?" / COLABOROU FELIPE ODA, DO JORNAL DA TARDE
DEFICIÊNCIAS
Doenças infecciosas
69% não souberam identificar sintomas de sífilis e indicar o tratamento; 57% não acertaram o diagnóstico de tuberculose pleural; 75% não demonstraram ter conhecimentos suficientes sobre a evolução da hanseníase.
Doença cardiovascular
85% não conseguiram diagnosticar um problema cardíaco por meio da descrição dos sintomas e da imagem de um eletrocardiograma.
Obstetrícia
74% não souberam nomear, nem com auxílio de imagens, três diferentes posições de um feto no útero.
Trauma
69% não acertaram o diagnóstico de ruptura da aorta de uma hipotética vítima de um acidente automobilístico.
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