WikiLeaks: telegrama diz que Dirceu fez ‘caixa dois’


Por Josias de Souza - Folha Online

Ex-ministro diz a Paulo Coelho: ‘Conclusão do interlocutor’

Fotos: Joel Silva/Folha e Divulgação

José Dirceu, o ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil de Lula almoçou neste sábado (18) com o escritor Paulo Coelho.

O teor da conversa foi revelado por Coelho em texto que pendurou em seu blog. Postou também uma chamada no twitter: “Exclusivo–José Dirceu e WikeLeaks”.

Paulo coelho contou que conheceu Dirceu em dezembro de 2005. Nessa ocasião, abalroado pelo escândalo do mensalão, ele já havia deixado o Planalto.

Pois bem. O escritor relata que, no repasto deste sábado, puxou conversa sobre o tema da moda: a mala diplomática dos EUA, vazada pelo WikiLeaks.

“Para minha supresa”, escreveu Paulo Coelho, “Dirceu disse que acabara de ser entrevistado por um jornal”.

Segundo ele, o ex-ministro petista não esclareceu se falara a veículo nacional ou estrangeiro. A entrevista versou sobre o papelório do WikiLeaks.

Será veiculada “na próxima semana”. Trará à luz um lote de relatos de conversas mantidas por Dirceu com funcionários do governo dos EUA.

Paulo Coelho tomou nota do que lhe foi dito por Dirceu. “Peguei um caderno que sempre carrego comigo (Moleskine, tradição de escritor)”, escreveu no blog.

Disse que são “vários” os telegramas que, remetidos do Brasil para os EUA, mencionam Dirceu.

Num deles, um ex-funcionário do Departamento de Estado norte-americano reproduz conversas que manteve com Dirceu durante um churrasco.

Paulo Coelho não menciona datas. Apenas diz ter ouvido de Dirceu que o churrasco aconteceu na casa dele, em Vinhedo (SP).

Dirceu identificou o ex-servidor americano como Bill Perry. Conversaram “durante toda uma tarde, sobre uma infinidade de assuntos”.

Segundo Paulo Coelho, o diálogo de Perry com Dirceu converteu-se num telegrama ao Departamento de Estado, em Washington.

Num trecho, diz Coelho, estaria anotado “que Zé [Dirceu] fez caixa dois”. Sem entrar em detalhes, o escritor reproduz a versão de Dirceu, recolhida na mesa de almoço:

O caixa dois seria, “segundo Dirceu, uma conclusão do interlocutor”.

Dirceu disse a Paulo Coelho que teve “outra longa conversa” com o tal Bill Perry, dessa vez no apartamento funcional que ocupava em Brasília.

O diálogo resultou em novo telegrama ao Departamento de Estado.

No texto, o interlocutor de Dirceu conta ter ouvido dele que Lula não disputaria um segundo mandato. Por quê? “Achava que iria perder as eleições”.

No almoço com Paulo Coelho, Dirceu declarou, segundo o escritor, “que tudo o que fez foi traçar os cenários que a oposição estava desejando naquele momento”.

Dirceu manteve, de resto, diálogos com um embaixador americano em Brasília. “Aqui, não lembro o nome”, desculpou-se Paulo Coelho.

Tratou de temas como Alca e Venezuela. De acordo com Paulo Coelho, Dirceu falou sobre os papéis sem vê-los. “O jornalista leu os telegramas” para ele.

Como que a explicar a súbita conversão de escritor em repórter, Paulo Coelho esclareceu:

Ao perceber que tomava nota da conversa que tiveram no almoço, “José Dirceu não me pediu nenhuma ajuda a respeito do tema”.

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