Fiquei um tanto abismado com o discurso de certos valentes que falaram ontem sobre o projeto do mínimo. E sou justo: havia pterodáctilos voando de todo lado, contra o projeto e a favor dele. A baixa qualidade não é monopólio da base aliada, não! É claro que esta acaba se sobressaindo mais porque a maioria acachapante de que dispõe na Câmara confere aos tais ignorantes parcelas generosas de soberba e arrogância. E nada é mais desagradável do que estupidez assoberbada.
O lixo retórico ia se acumulando com o decorrer da sessão, unindo figurinhas já conhecidas a outras ainda estreantes no mundo da mistificação. Não faltou, por exemplo, o Henrique Fontana (PT-RS) velho de guerra, conhecido molestador de CPIs — quando o PT é investigado, claro! —, a atacar, imaginem!, o governo FHC, afirmando que nunca antes um governo se preocupou com o mínimo… Uau! O homem estava ali a defender o aumento real zero em nome da revolução!!! Reacionários eram os que queriam R$ 560 ou R$ 600! Sem contar a mentira essencial: a recuperação do salário mínimo começou em 1997, no governo… FHC!
Mas Fontana era um verdadeiro Aristóteles perto de alguns que tomavam a tribuna, inflamados, sobretudo, pela ignorância que se mostrava generosa, robusta, cheia de si. Um deles, um famoso “quem” qualquer, vociferava que a proposta do mínimo tinha sido acertada com as centrais, logo, causa finita est. Foi então que me dei conta — eu já sabia, mas a formulação não estava tão clara — que, no caso do mínimo, o governo usava as centrais sindicais como substitutas do Congresso!
E elas não são! Ou, a seguir tal modelo, cada questão da República poderá ser decidida agora com a devida corporação de ofício, não é mesmo?
A fórmula do mínimo é boa ou é ruim? Eu diria que se trata da legalização imprudente da indexação, num valor que é usado, ele também, como um índice. Tudo o mais constante, a economia crescendo bem e tal, um dia a regra terá de ser mudada, ou o mínimo maximizará os custos a um nível insuportável. Mas isso não é pra já. Que a regra fique aí se quiserem.
Fraudar a Constituição, no entanto, é inaceitável. Na Câmara, a desonra se deu por 350 votos a 117. Vamos ver o placar no Senado. Se a fraude constitucional for aprovada também ali, restará o caminho do Supremo. Se o Supremo endossá-la, recorro a Manuel Bandeira: pode-se tentar um pneumotórax da democracia brasileira; se não houver jeito, toca-se um tango argentino.
Um comentário:
Lamento muito, mas a oposição nunca saiu da retórica, porque na prática é zero a esquerda.E com certeza a desonra já vai chegar no Senado Federal abençoada pelos Papas do sacro santo império da Dilma.Ela joga a sardinha podre e as foquinhas dançam.
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