Desarmamento é fruto do discurso patrulheiro

Por Gilmar Correia - ucho.info
Há coisas que se repetem até a exaustão em nome do politicamente correto ou pela incompetência do Estado. Vira e mexe determinado tema volta à baila por conta de interesses nem sempre explícitos.

É o caso da onda do desarmamento que retorna com intensidade a ocupar os espaços nas pautas dos veículos de comunicação. Em nome do coibir casos como o de Realengo, em que um franco atirador tirou a vida de brasileirinhos, aparecem autoridades e representantes de ONGs com essa conversa de desarmamento.

Há seis anos os brasileiros responderam ao plebiscito sobre o tema em questão. Contrariando as pesquisas manipuladas pelas mesmas entidades que voltam com essa história de não ao armamento, houve uma resposta esmagadora contra a farsa. Para mascarar incompetência das autoridades, volta-se com esse discurso vazio de manipulação da opinião pública.

Tomo a liberdade de citar o primeiro trecho de um artigo escrito há seis anos por Américo Gomes, então na direção nacional do PSTU: “No meio de toda a roubalheira em que vive o país, parece que definitivamente resolveram montar um circo. Entra em cena o plebiscito sobre o desarmamento. Em um país onde os grandes bandidos estão no governo e no Congresso, esses mesmos políticos que se arvoram como combatentes do crime querem desarmar a população. Fica a pergunta: desarmar contra quem?”
Mudou alguma coisa em todos esses anos? Ora, a falta de ação dos governos na área da segurança pública aumentou o descontrole sobre o comércio de armas. No caso de Realengo, alguma das duas armas usadas pelo franco-atirador tinha registro ou pertencia a algum cidadão de bem? Não. Uma delas estava desaparecida há dezoito anos.

O mercado paralelo de armas continua, como provou o assassino Wellington. O comércio ilegal é muito mais grave quando se analisa a entrada de armas e munição pela fronteira. Armas automáticas e de grosso calibre que chegam nas mãos de bandidos em assaltos espetaculares e sequestros.

Falar em desarmamento no calor do noticiário da chacina da escola fluminense tem o objetivo de esconder a incompetência do Estado. É criar factóide sobre um drama que mexeu com os sentimentos de milhares de pessoas.

O problema não está na questão do desarmamento. Centenas entregaram voluntariamente numa campanha que antecedeu o referendo do armamento, mas as armas ilegais continuam circulando. Muitas delas acabam nas mãos erradas por intermédio de integrantes da própria polícia.

Estranho que representantes de entidades civis e representantes do governo venham com esse discurso requentado. Mais uma vez me socorro em Américo Gomes que, em sua avaliação crítica ataca no ponto da indústria da violência.

“O objetivo da campanha de desarmamento é manter nas mãos do Estado o monopólio da violência e da repressão e não dar o direito aos trabalhadores de se defenderem, principalmente contra seu maior inimigo, o Estado burguês, que é o principal gerador de violência. O plano do governo só serve para iludir o povo e dar uma sensação de tranqüilidade, como se o comércio de armas não fosse feito por contrabandistas. Ninguém vê bandido em loja comprando arma para assaltar”.

No discurso do politicamente correto, há uma deliberada intenção de desacreditar e patrulhar ideias conflitantes. A vigília em nome do certo se transforma numa arma bem articulada que não leva em conta opiniões diferentes ou divergentes.

Este é o risco mais grave. Sob uma concepção única, vamos acabar reféns de uma neo-esquerda, patrulheira, ditadora, que não admite o contrário. Usa a democracia como escudo. Não defende a livre opinião, mas persegue o diferente. Não defende um estado de direito, mas usa o aparelho de estado para reafirmar posições e combater divergências, num risco futuro em que a minoria vence a maioria.

Um comentário:

Jurema Cappelletti disse...

É uma que as autoridades usam para fingir interesse pelo cotidiano de quem os sustenta. São tão competentes e prestimosos, não é mesmo?

Desarmamento só funciona se também os meliantes ficarem desarmados. De resto, não passa de 'apresentação'.

Ju