A idiotia no poder

Os idiotas estão por toda parte, avisou já no título o artigo aqui publicado em 21 de janeiro de 2011 e reproduzido na seção Vale Reprise. Depois de registrar no primeiro parágrafo que foi Nelson Rodrigues o primeiro a detectar, numa crônica do fim dos anos 60, “a ascensão espantosa e fulminante do idiota”, o texto constata que a o fenômeno atingiu dimensões alarmantes neste começo de século. No início do 9º ano da Era da Mediocridade, a tribo dos cretinos fundamentais, que antes se limitava a babar na gravata, chegou ao coração do poder e perdeu de vez quaisquer inibições.

Seis meses mais tarde, no jantar em homenagem ao 80° do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ainda ministro Nelson Jobim evocou a mesma crônica de Nelson Rodrigues para afirmar que “os idiotas perderam a modéstia”. Jobim nunca escondeu que é leitor desta coluna. Mas esta é outra história. Não estou tratando de direitos autorais. O tema é a crescente desenvoltura da espécie que, sempre em acelerada expansão, hoje é representada no governo e nos partidos da oposição, no Ministério e no segundo escalão, no Congresso, nos tribunais e na imprensa, na plateia que assiste à passagem do cortejo ou nos andores da procissão de espantos.

Há um ano, ao fim de um passeio de helicóptero pela Região Serrana do Rio, Dilma Rousseff prometeu fazer amanhã o que Lula jurou ter feito em 2005, solidarizou-se com as famílias assassinadas pela incompetência do Planalto e do governo estadual e elogiou o comparsa Sérgio Cabral. O governador devolveu o elogio, agradeceu a Lula por oito anos de providências imaginárias e debitou o massacre premeditado na conta dos antecessores, de São Pedro, do imponderável e dos mortos.

Ambos foram desmoralizados por Luiz Antonio Barreto de Castro, demissionário do cargo de secretário de Políticas e Programas do Ministério de Ciência e Tecnologia, durante um depoimento no Congresso. Castro encerrou a conversa fiada com seis palavras: “Falamos muito e não fizemos nada”. O espetáculo da inépcia foi reapresentado ao longo de 2011, sob o silêncio obsequioso da oposição partidária. A idiotia é pluripartidária.

Mas há limites até para a cretinice, precisa aprender o governador Sérgio Cabral. Nesta segunda-feira, ele voltou a comparar o que houve na Região Serrana em janeiro passado com a passagem do furacão Katrina por New Orleans em 27 de agosto de 2005. Se Nova Friburgo fosse atingida por um furacão de categoria 5, nível máximo na escala de Saffir-Simpson, não sobraria ninguém para contar a história. Se New Orleans fosse castigada por uma chuva torrencial de 20 horas, só morreriam os que resolvessem suicidar-se por afogamento. A menos que o prefeito da cidade fosse Sérgio Cabral: quem faz de conta que temporal é furacão não precisa de mais que uma enxurrada para produzir outra tragédia.

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