Mandatário visita América Latina em busca de apoio. Brasil e México estão fora do roteiro que inclui Equador, Nicarágua e Cuba

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Mandatário visita América Latina em busca de apoio. Brasil e México estão fora do roteiro que inclui Equador, Nicarágua e Cuba

O GLOBO
COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS


O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad acena ao chegar à Venezuela, ao lado do vice-presidente Elias Jaua (à direita), no aeroporto at Simon Bolivar, em Caracas
CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

CARACAS, TEERÃ e WASHINGTON - À frente de um governo envolvido numa recente troca de ameaças com os EUA, e cada vez mais pressionado por países europeus, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, começou ontem uma visita de cinco dias pela América Latina, onde se encontrará com dirigentes aliados da região, como o venezuelano Hugo Chávez, o equatoriano Rafael Correa, o cubano Raúl Castro e o nicaraguense Daniel Ortega. O Brasil, com quem o governo de Ahmadinejad manteve um forte vínculo durante os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não está incluído no roteiro. O início da viagem por busca de apoio na região coincidiu com uma nova escalada das tensões entre Washington e Teerã acerca do estratégico Estreito de Ormuz, por onde passam 20% do petróleo mundial.

— As relações existentes entre o Irã e os países da América Latina são cordiais e estão em pleno desenvolvimento — disse Ahmadinejad, antes de embarcar.
Ontem, Ali Ashraf Nouri, um membro do alto escalão da Guarda Revolucionária Iraniana, garantiu que as autoridades do país já decidiram fechar o Estreito de Ormuz caso as sanções internacionais resultem no bloqueio de suas exportações de petróleo. A resposta veio horas depois, também em tom de ameaça, por parte do secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, garantindo que não vai deixar o Irã desenvolver armas nucleares ou bloquear o estreito.

— Eles precisam saber disso: se derem esse passo, serão impedidos — disse Panetta, lembrando que os EUA manterão seus navios de guerra posicionados no Golfo, e estimando que as ameaças do Irã na verdade demonstram a fraqueza do país e comprovam a eficácia das sanções contra seu controverso programa nuclear.

Urânio transferido a local subterrâneo
A tensão entre os dois países aumentou desde o final do ano passado, quando o presidente Barack Obama impôs sanções econômicas mais duras ao país, que desta vez podem afetar suas exportações de petróleo. Além disso, a União Europeia, na semana passada, chegou a um acordo preliminar para bloquear as importações de petróleo do Irã caso o país não mude de posição sobre seu programa nuclear. Numa medida que deve aumentar ainda mais o atrito com países ocidentais, o jornal “Kayhan”, próximo ao governo, divulgou que o país já começou a enriquecer urânio num local subterrâneo — uma forma de proteger seu programa de eventuais ataques.

“O ‘Kayhan’ recebeu relatórios que mostram que o Irã começou a enriquecer urânio na instalação Fordo em meio a ameaças de inimigos estrangeiros”, escreveu o jornal.

O Parlamento iraniano aprovou uma medida para coibir a atividade de casas de câmbio não oficiais, em mais uma tentativa de conter a desvalorização do rial — que já perdeu 20% de seu valor desde a aprovação das novas sanções americanas.

É nesse cenário de isolamento crescente do Irã que Ahmadinejad começa o tour por quatro países latino-americanos. Em sua sexta visita à Venezuela como presidente, ele chegou ontem a Caracas, para se reunir com Hugo Chávez — que tem se posicionado claramente contra a presença da Marinha americana no Golfo Pérsico nos últimos dias. Na reestreia de seu programa semanal “Alô Presidente” — que ficou sete meses fora do ar enquanto Chávez se recuperava de um câncer — o venezuelano voltou a apoiar o Irã, considerando que “a tentativa americana de isolar Teerã faz rir”.

O comércio entre o Irã e a América Latina triplicou entre 2008 e 2009, mas ainda representa uma parte ínfima das importações e exportações para ambas as partes. Tirando a Venezuela, com quem o Irã assinou um acordo de cooperação militar que nunca foi detalhado publicamente, muitas iniciativas na região nunca saíram do papel. Na Nicarágua, por exemplo, apesar dos diversos acordos assinados, o único que foi para frente é um hospital em Manágua, segundo a imprensa local. Agora, no entanto, Ahmadinejad prometeu dar “um passo gigantesco na região”, sem fornecer maiores detalhes.

— Enquanto o regime se sente cada vez mais pressionado, o Irã está desesperado pelo apoio de aliados antigos, e por encontrar novos amigos — cutucou a porta-voz do Departamento de Estado americano Victoria Nuland.

Segundo analistas, no entanto, sem incluir Brasil, Argentina ou México em seu roteiro, o Irã dificilmente verá sua influência aumentar de forma significativa na região.

EUA decidem expulsar cônsul da Venezuela, e motivo pode ter a ver com Teerã
Um documentário chamado "A ameaça iraniana", exibido pelo canal americano Univision, voltado para a população hispânica, teria sido o responsável pela queda da cônsul geral da Venezuela em Miami, Livia Acosta Noguera. No comando do consulado na cidade desde março de 2011, Livia foi declarada persona non grata e deve deixar os EUA, de acordo com o Departamento de Estado americano.

Detalhes da decisão, divulgada ontem pelo porta-voz Mark Toner, não foram comentados: de acordo com o artigo 23 da Convenção de Viena sobre relações consulares, o país que ordena a expulsão não está obrigado a explicar sua decisão. A Embaixada da Venezuela em Washington foi informada da decisão na sexta-feira, de acordo com a declaração (por escrito) do porta-voz, e o Departamento de Estado afirmou que Livia deveria deixar os Estados Unidos amanhã. O governo venezuelano não se pronunciou oficialmente.

No documentário “A ameaça iraniana”, Livia é mostrada como parte de um grupo de diplomatas venezuelanos, iranianos e cubanos interessados na oferta de hackers mexicanos para invadir os sites da Casa Branca, do FBI, do Pentágono e de usinas nucleares americanas. De acordo com a Univision, gravações mostram os diplomatas fazendo perguntas aos hackers e prometendo enviar informações para seus governos.

Juan Carlos Muñoz Ledo, um estudante da Universidade Nacional Autônoma do México, disse ao documentário que foi recrutado por um professor que queria comandar ciberataques aos EUA e seus aliados. Muñoz contou que gravou secretamente um encontro com Livia em 2008, quando ela era adido cultural da embaixada da Venezuela no México. Na gravação, Livia supostamente é ouvida dizendo que pode enviar os dados obtidos pelos hackers diretamente para o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Irã anuncia que vai começar a enriquecer urânio em bunker
Em um “futuro próximo”, o Irã começará a enriquecer urânio dentro de uma montanha, disse uma autoridade. Medida que provavelmente irá aumentar ainda mais a tensão entre Teerã e as potências ocidentais que suspeitam que o governo iraniano está tentando fabricar armas nucleares.

A decisão tomada pela República Islâmica de conduzir atividades atômicas delicadas em um local subterrâneo dará maior proteção contra um possível ataque inimigo. Há meses o Irã vem dizendo que está se preparando para levar seu trabalho de refinamento de urânio de alto nível da usina de enriquecimento em Natanz para Fordow, uma instalação perto de Qom, cidade sagrada para os muçulmanos xiitas no centro do Irã.Os Estados Unidos e seus aliados dizem que o Irã está tentando construir bombas, mas Teerã insiste que seu programa nuclear visa apenas à geração de energia e tem objetivos médicos.


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