Por Josias de Souza - uol.com.br
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, prepara para junho um giro pela América Latina. A viagem inclui uma escala no Rio, para o encontro internacional sobre mudanças climáticas.
Vai abaixo um extrato da entrevista com o embaixador Mohsen Shaterzadeh. Vale a leitura:
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, prepara para junho um giro pela América Latina. A viagem inclui uma escala no Rio, para o encontro internacional sobre mudanças climáticas.
Será a primeira visita de Ahmadinejad ao Brasil de Dilma Rousseff. Uma oportunidade para testar o ‘pé atrás’ da presidente com o autocrata que Lula afagou e chamou de companheiro.
Noticiou-se que Dilma reorientava a diplomacia. A versão espera por fatos que a comprovem. Saiu o trombone de Celso Amorim. Entrou o violino do chanceler Antonio Patriota. Mas a música é a mesma.
Em relação ao Irã, Dilma diferenciou-se de Lula em duas ocasiões. Numa, entoou um par de declarações contra o apedrejamento de mulheres. Noutra, mandou o Itamaraty votar a favor do envio de um relator especial da ONU a Teerã, para farejar violações.
Quando parecia que os direitos humanos escalariam o topo da agenda externa, o Brasil revelou-se complacente com as atrocidades do ditador da Síria, Bashar Al Assad. A pseudo-mudança virou espuma.
A propósito da viagem de Ahmadinejad, o repórter Fabiano Costa ouviu o embaixador do Irã no Brasil. Chama-se Mohsen Shaterzadeh. Revelou-se um diplomata clássico. Do tipo que considera que a diplomacia, para funcionar, precisa ser macia.
Mohsen esquivou-se das cascas de banana. “As críticas da presidente não comprometeram a amizade entre os dois países”, disse num trecho da entrevista. “O atual governo brasileiro é uma continuação da gestão Lula”, afirmou noutra passagem.
A maciez não impediu Mohsen de reconhecer um certo incômodo de Teerã. Nada que afetasse o comércio bilateral, na casa dos US$ 2,3 bilhões, a caminho dos US$ 5 bilhões.
Na esfera política, porém, o Brasil deixou de frequentar a lista de parceiros prioritários do Irã na América Latina. Foi excluído de uma relação que inclui, segundo o embaixador, Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua.
Quer dizer: a insatisfação de Ahmadinejad com a troca de instrumentos na orquestra do Itamaraty resultou num avanço estético. Involuntariamente, Brasília foi privada de companhias molestas. Sem prejuízos à balança comercial.
Vai abaixo um extrato da entrevista com o embaixador Mohsen Shaterzadeh. Vale a leitura:
– Qual é o objetivo da visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, à América Latina? A viagem é basicamente uma visita a amigos. Temos muitos projetos a serem firmados com alguns governos da América Latina. Uma comitiva de empresários iranianos acompanha o presidente Ahmadinejad. Pretendemos renovar e fortalecer as relações políticas e econômicas com Cuba, Nicarágua, Equador e Venezuela.
– As relações entre Brasil e Irã esfriaram após a posse da presidente Dilma Rousseff? Não. O atual governo brasileiro é uma continuação da gestão Lula. Apesar do embargo dos EUA e da União Europeia ao petróleo iraniano, em 2011, o comércio bilateral entre Brasil e Irã ultrapassou US$ 2,3 bilhões. Além disso, temos outros US$ 2 bilhões atrelados a projetos em andamento.
– Teerã se incomodou com o voto do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU a favor da nomeação de um relator especial para o Irã? O governo iraniano demonstrou um pouco de insatisfação. No entanto, consideramos o voto brasileiro característico de um país independente. Temos certeza que o Brasil não jogará no terreno dos EUA.
– As reiteradas críticas de Dilma contra o apedrejamento de mulheres desagradaram o governo iraniano? Em uma tentativa de promover uma propaganda contra o regime de Teerã, os meios de comunicação ocidentais venderam outra imagem desta mulher iraniana condenada à morte por adultério, a Sakineh Ashtiani. Após as declarações de Dilma contra a condenação, esclarecemos o assunto com as autoridades brasileiras. Acredito que essa questão está sanada. As críticas da presidente não comprometeram a amizade entre os dois países.
– Em uma entrevista durante o governo Lula, o senhor disse ver afinidades políticas entre o ex-presidente brasileiro e Ahmadinejad. O senhor considera que há afinidades entre Dilma e o chefe de Estado do Irã? O eixo de cooperação entre Brasil e Irã não se alterou no governo Dilma. Os dois países acreditam em justiça social, eliminação da pobreza e são contra atos cruéis e opressivos pelo mundo. As duas nações também pedem a reforma do Conselho de Segurança da ONU e têm propostas inovadoras para a paz no Oriente Médio. É óbvio que temos nossas diferenças, como nos aspectos culturais, mas os pontos de convergência são maioria.
– No entanto, os dois países têm visões distintas em torno dos direitos humanos… Brasil e Irã enxergam o tema com o mesmo olhar. Ambos países acreditam que essa pauta não deve servir de instrumento político. O conceito de direito humanos tem de considerar a cultura e os costumes de cada povo. É natural que os costumes no Brasil sejam diferentes dos nossos, assim como são dos japoneses e dos italianos. A visão sobre os direitos humanos não deve ser a mesma dos EUA. É fundamental que a cultura de cada país seja respeitada.
– Atualmente, quem são os parceiros prioritários do Irã na América Latina? Temos um intercâmbio comercial maior com o Brasil. Porém, nossos principais projetos de cooperação hoje estão vinculados a cinco países: Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, nesta ordem. Investimos nessas nações aliadas em fábricas de automóveis, cimento, tratores e produção petroquímica, entre outros setores.
– O governo iraniano ainda defende um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU para o Brasil? Claro. Não mudamos nossa opinião, enfatizada durante a visita do presidente Ahmadinejad ao Brasil, em 2009. Nós enfrentamos as mesmas dificuldades que o governo brasileiro no sistema político multilateral.
– Na sua avaliação, houve uma guinada na política externa brasileira no governo Dilma? Seria melhor fazer essa pergunta para os analistas brasileiros. O Irã, entretanto, está convencido de que a política externa de Dilma é uma continuação da do ex-presidente Lula.
– Como Teerã vê a reaproximação do Planalto com a Casa Branca? Respeitamos as políticas de qualquer país. O Brasil tem de seguir sua trajetória conforme seus interesses. No entanto, o governo iraniano é contra as políticas expansionistas e repressoras dos EUA ao redor do mundo. Teerã é contra a política repressiva e cruel imposta pela Casa Branca.
Um comentário:
Se eu tivesse de idade 50 anos amenos talvez fosse à chegada dessa figura desumada para atirar uns ovos podres nele.
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