Faz 66 dias que Lula foge dos jornalistas. Continuará perseguido por perguntas sem resposta sobre as bandidagens de Rose


Faz 66 dias que Lula foge de jornalistas. Nesse período, discursou para catadores de lixo, posou para a posteridade ao lado de Sofia Loren, fez palestras sobre assuntos que ignora, assistiu ao jogo entre Santos e São Bernardo enfurnado num camarote, garantiu a uma entrevistadora da TV da Federação Paulista de Futebol que quem pratica esporte não usa droga, deu conselhos a Fernando Haddad, nomeou-se co-presidente, encontrou tempo até para mostrar que, embora não tenha lido um só livro nem saiba escrever, tem muito a ensinar a intelectuais nativos ou cucarachas. Só não falou da chanchada pornopolítica em que se meteu.

É preciso lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido, reitera há quase quatro anos a inscrição no alto desta página. Não se pode esquecer,  por exemplo, o caso de polícia em que Lula foi envolvido pela primeiríssima amiga Rosemary Noronha. A Polícia Federal revelou em 23 de novembro do ano passado que a chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo era também dirigente da uma quadrilha infiltrada em agências reguladoras que comercializava pareceres técnicos. Passados mais de dois meses, o ex-presidente a quem Rose se referia como “meu namorado” não deu um único pio sobre o escândalo.
Faz 66 dias que Lula foge de jornalistas. Nesse período, discursou para catadores de lixo, posou para a posteridade ao lado de Sofia Loren, fez palestras sobre assuntos que ignora, assistiu ao jogo entre Santos e São Bernardo enfurnado num camarote, garantiu a uma entrevistadora da TV da Federação Paulista de Futebol que quem pratica esporte não usa droga, deu conselhos a Fernando Haddad, nomeou-se co-presidente, encontrou tempo até para mostrar que, embora não tenha lido um só livro nem saiba escrever, tem muito a ensinar a intelectuais nativos ou cucarachas. Só não falou da chanchada pornopolítica em que se meteu.
Confiante na crônica amnésia nacional, deve achar que o filme de quinta categoria vai terminar antes do fim ─ e com a vitória dos vilões. Engano. Até que recupere a voz (e crie coragem), será perseguido por perguntas sem resposta. Não são poucas. E faltam muitas, adverte o avanço das apurações da Polícia Federal e a coleta dos primeiros depoimentos pelo Ministério Público. As patifarias já descobertas sugerem que a história está em seu começo. Os inocentes não têm o que temer. Quem tem culpa no cartório não vai escapar pela trilha do silêncio.
O Brasil não pode desviar-se da trilha desmatada pelo  julgamento do mensalão. As penas impostas aos quadrilheiros pelo Supremo Tribunal Federal apontaram o caminho mais curto para a extinção de uma espécie repulsiva: o brasileiro-condenado-ainda-no-berço-à-perpétua-impunidade. Todos são iguais perante a lei, ensinaram os ministros. O ex-presidente não é mais igual que os outros. Não está acima de qualquer suspeita. Não é inimputável. Nem mesmo ao fundador do Brasil Maravilha é permitido transformar urna em tribunal e decidir que um chefe de seita absolvido pelo rebanho não tem contas a prestar à Justiça.
Apesar de tudo, apesar de tantos, o Brasil não é uma Venezuela. O Código Penal vale também para Lula.

Nenhum comentário: