Bate-boca e palavrão nos microfones do Congresso. Líder do governo e deputado trocam ofensas em sessão plenária com a presença de crianças que visitavam o Congresso


BRASÍLIA - Com uma galeria repleta de crianças de uma escola que assistiam à esvaziada sessão desta quinta-feira no plenário da Câmara, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o deputado Sebastião Bala Rocha (Solidariedade-AP) protagonizaram um bate-boca acirrado, que incluiu até mesmo palavrões proferidos nos microfones, em alto e bom som. A briga entre os dois começou porque, irritado com a atitude de Bala Rocha, que derrubou a sessão e evitou a votação de um projeto, Chinaglia provocou-o, dizendo que não tinha sido algemado em sua vida, referindo-se a Bala Rocha, que já foi preso, em 2004, na Operação Pororoca.
- Só tenho a dizer uma coisa: graças à minha formação, nunca fui algemado na minha vida!

Sem titubear, Bala Rocha, no microfone, disparou:
- Eu fui injustiçado, seu porra, seu filho da puta!

Segundo o deputado Chico Alencar, preocupado com o acirramento da discussão, o deputado Simão Sessim (PP-RJ), que presidia a sessão, desligou o som dos microfones. Chico contou que Bala Rocha ainda continuou esbravejando e dizendo que políticos do PT é que estão sendo algemados e presos na Papuda. Ele teria ainda xingado Chinaglia, dizendo que era um líder de governo que não passava de um vagabundo.

Diante do acirramento, deputados se colocaram entre os dois deputados para evitar um confronto físico. Entre eles, Chico Alencar, Colbert Martins (PMDB-BA), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que costuma protagonizar momentos mais quentes e bate-bocas, mas desta vez agiu como bombeiro.

- Foi o espírito anti natalino. Na galeria estavam crianças de uma escola, tiveram que ouvir tudo. O clima ficou bem quente. Nunca vi, nos microfones, alguém xingar com tanta veemência - disse Alencar.
Em ofício encaminhado à Secretaria Geral da Mesa algumas horas depois da sessão, Bala Rocha pede a retirada da expressão “filho da puta” das notas taquigráficas que registram os discursos feitos no plenário da Câmara. No ofício ele argumenta: “a mencionada expressão foi usada numa reação instantânea à agressão que sofri por parte do líder do governo, que citou o episódio, ocorrido em 2004, no contexto da Operação Pororoca em que fui injustamente algemado pela Polícia Federal e que até hoje me faz sofrer e a toda minha família”.

No ofício, e também em discurso feito na tarde desta quinta-feira, ele pede desculpas à Casa e aos colegas pelas palavras ditas e acrescenta que jamais faltou com o decoro. No discurso feito nesta tarde, ele volta a criticar o líder Arlindo Chinaglia, referir-se a ele como infeliz e avisar que fará obstrução cerrada ao governo Dilma em razão das ofensas que sofreu.
Às quintas-feiras, as sessões da Câmara geralmente são esvaziadas porque os deputados marcam presença e viajam para seus estados. Por isso, são escolhidos para votações projetos que têm consenso, como o de hoje, que era um tratado entre o Brasil e a França, assinado em 23 de dezembro de 2008, relativo a questões de exploração de garimpo na fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa.

O acordo trata da regulamentação da atividade de garimpo, para evitar o garimpo ilegal, o contrabando, e afeta principalmente o Amapá, estado de Bala Rocha. Por isso o deputado do Solidariedade foi à tribuna dizer que o tratado prejudicava trabalhadores do estado e era bom para a Guiana e não para o Brasil. Outro deputado, Arnaldo Jordy (PPS PA) emendou críticas, dizendo que o tratado era insuficiente.

Chinaglia, então, ao defender a votação do acordo, disse que que a deputado Dalva Figueiredo (PT AP) tinha relatado a ele sobre uma reunião com o ministro Gilberto Carvalho acertando os detalhes do tratado e que só seria aceito o que fosse de reciprocidade. Chico Alencar usou a palavra para dizer que a reunião de Carvalho tinha sido com a bancada do Amapá e, Bala Rocha, que já tinha criticado o acordo, aproveitou para dizer que o PT quer fazer tudo. Chinaglia reagiu dizendo que tinha gente querendo pegar carona no projeto de outros e o clima começou a esquentar.

Bala Rocha, com o apoio do PPS pediu verificação do quórum. O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO) apoiou e a sessão acabou caindo, porque não havia número de deputado suficiente em plenário para votar. Foi então que, irritado, Chinaglia fez a fala que gerou o bate-boca. Veja no site da GLOBO

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