Presos do mensalão ficam isolados na cadeia. Detento diz que os mensaleiros presos têm rotina diferenciada

AGUIRRE TALENTO
MATHEUS LEITÃO
SEVERINO MOTTA
FOLHA DE SÃO PAULO

Os condenados no julgamento do mensalão que estão presos há quase dois meses no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, comem melhor e não se misturam com os demais apenados, tomam banho de sol o dia inteiro e são mais bem tratados pelos carcereiros.
Essa é a versão que corre na cadeia entre os detentos, que apelidaram os colegas ilustres de "petistas", apesar de apenas dois dos oito condenados do esquema que estão na Papuda serem do PT. Os comentários que correm de boca em boca foram relatados àFolha por um apenado que obteve liberdade condicional na semana passada e que pede anonimato.
Segundo a direção da Papuda, a situação não é assim. O presídio diz que as quentinhas servidas às 11h30 e às 17h são todas iguais, com arroz, feijão, salada e carne. Mas os presos do mensalão, de fato, têm rotina diferenciada, com o objetivo de evitar contato com os demais –por razões de segurança.

Presos na mesma cela do CIR (Centro Integrado de Reabilitação), de regime semiaberto, o ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PL (hoje PR) Jacinto Lamas e os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Carlos Rodrigues (PR-RJ) estão em ala destinada a ex-policiais.

Já os presos do regime fechado, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e seus ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, estão em celas individuais. Valério fica no pavilhão de segurança máxima, chamado de "seguro", onde ficam estupradores e presos cujo contato com os demais pode ser perigoso.

O dia na Papuda começa às 6h, quando todos devem estar de pé para o "confere", quando carcereiros verificam as condições dos presos. Às 7h, o café da manhã –pão com manteiga e café com leite– é servido na cela.

Dirceu e os companheiros complementam a refeição com frutas, biscoitos e sucos comprados na cantina. Semanalmente, familiares podem levar até R$ 125 aos presos. Às 9h, começa o banho de sol, mas o horário varia para cada ala. Nesse ponto, a rotina dos "petistas" é diferente da dos 12 mil presos da Papuda –1.600 deles no CIR.

Os condenados do mensalão esperam um dos sete pátios do CIR vagar para ter o banho de sol exclusivo. Todos usam o uniforme da cadeia, com roupas brancas. O contato com os outros presos é raro. A mulher de um deles relatou à Folha que seu marido, que trabalha como eletricista dentro da Papuda, uma vez foi à cela de Dirceu e tentou puxar assunto, mas não foi correspondido.

"Eles acham que a gente é lixo", disse o preso recém-solto, que afirma só tê-los visto nas poucas vezes que passou em frente à cela deles. Enquanto aguardam decisão da Justiça sobre pedido para trabalhar fora do presídio, passam o tempo lendo.

Os condenados que estão no CIR também têm uma TV dentro da cela, regalia geralmente concedida só aos detentos que trabalham. Eles costumam assistir e comentar o noticiário. O aparelho é desligado às 22h –exceção ocorreu no Réveillon, quando passaram da meia-noite.
Dirceu e Delúbio começaram um curso à distância de direito constitucional e estudam juntos entre o almoço e o jantar. No regime fechado, os condenados do mensalão levam uma vida mais árdua. Valério não tem TV e vê sua luz ser apagada às 21h. Já Paz se queixa de eventualmente ficar sem banho de sol. Aqui

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