Um dos textos mais lúcidos e equilibrados sobre o Brasil dos PTralhas escrito pelo Jornalista Guilherme Fiuza
Por Guilherme Fiuza - O GLOBO
O
Brasil bonzinho assassinou o cinegrafista Santiago Andrade. Não foi outro o
criminoso. Quem matou Santiago foi esse Brasil envernizado de bondade e
infernizado de hipocrisia. Nenhum débil mental mascarado poderia ter matado
Santiago sem a cumplicidade desse monstro.
A
herança maldita da Primavera Burra foi apontada exaustivamente neste espaço. Os
bem-pensantes e os demagogos — hoje praticamente indiscerníveis — continuaram
matraqueando que os políticos precisavam ouvir “o recado das ruas”. Mentira.
Não houve recado nenhum. Não há uma mísera mensagem aproveitável daquele
carnaval cívico, onde multidões exuberantes marcharam contra tudo e contra nada
— na mais patética perda de oportunidade política na era do Império do
Oprimido.
É
claro que esse heroísmo imaginário das passeatas não poderia acabar bem.
Qualquer bando de almas penadas que fechava uma rua podia ser aplaudido pela
sociedade engarrafada. “Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil”,
diziam os revolucionários de videogame. Mudando o Brasil para onde? Para o
Afeganistão?
Ninguém
perguntou. E a natureza não perdoa: onde não há luz, há treva. Rapidamente, o
espaço sacralizado da revolução sem cabeça foi tomado pelo obscurantismo. E o
Brasil começou a matar Santiago Andrade quando se permitiu ficar na dúvida
sobre o que fazer diante dos boçais mascarados e seus chiliques medievais. Ou
melhor: a parte mais bondosa e solidária desse Brasil não ficou na dúvida.
Criou um movimento pela libertação dos detidos nas arruaças, black blocs e
idiotas associados.
Deputados
bonzinhos, intelectuais do bem e artistas antenados gritaram — alto — pela
liberdade dos presos em manifestações. Não há artefato mais letal do que a
bondade prenhe de ignorância e flacidez moral. E os comandantes da segurança
pública, intoxicados pelo arrastão populista, passaram a declarar que “a
polícia não está preparada para esse novo tipo de manifestação”. Um escárnio. A
barbárie nunca foi tratada com tanto carinho.
Ora,
o que se faz com criminosos que saem pelas ruas destruindo o patrimônio público
e privado, sitiando cidadãos e atentando contra a sua integridade física?
Prende-se. Depois processa-se, julga-se e condena-se. Com as leis que estão aí,
com o aparato judicial e policial que está aí, sem um segundo de conversa fiada
sobre novos tempos e nova boçalidade. Esse Brasil progressista que matou
Santiago se permitiu hesitar diante da afronta ao estado de direito. Confundiu
atentado com protesto, e resolveu (embora jamais vá confessar isso) relativizar
a violência. Assassino.
Os
criminosos que explodiram o crânio do cinegrafista foram identificados sem
dificuldade, e estão presos. Mas eles mesmos e seus coleguinhas de terror se
cansaram de protagonizar atos igualmente letais, fartamente filmados e
fotografados — e puderam voltar tranquilamente para o Facebook e combinar o
próximo programinha. Isso porque a sociedade civilizada cismou que não sabe
combater “esse novo tipo de manifestação”. A mãe do sujeito que disparou contra
Santiago, assustada, não sabia que tinha um criminoso em casa. O Brasil
escondeu isso dela.
Quem
se meteu a investigar os computadores dos covardes mascarados, chegando a deter
alguns dos articuladores desse câncer, foi bombardeado pelos progressistas nas
redes sociais. E lá ia o Brasil discutir se pode ou não pode condenar os
facínoras ideológicos, deixando as mamães sem uma notícia decente de quem eram
os seus pimpolhos homicidas.
Brasil,
explique isso agora aos filhos de Santiago.
Não,
ninguém vai explicar nada. Já estão chovendo teorias sobre o que é terrorismo, o
que é black bloc, que reformas devem ser propostas ao Congresso Nacional (só
rindo). Daqui a pouco o irrevogável Mercadante propõe um “plebiscito popular”,
e o país volta tranquilamente à sua letargia assassina. Por falar em
assassinato, os diplomatas do MST deixaram dez policiais gravemente feridos em
Brasília. O Brasil está esperando um deles morrer para se horrorizar.
E
o que aconteceu com os agressores? Foram recebidos em seguida por Dilma
Rousseff no palácio, para um bate-papo de uma hora sobre reforma agrária. O que
você está esperando para pegar sua borduna e ir atrás do que é seu?
Mas
vá logo, porque o que é seu está sendo devorado rapidamente pelos amigos do
povo — esses que a Primavera Burra não viu. Santiago morreu cobrindo um suposto
protesto contra aumento das passagens de ônibus, e não se viu um único
revolucionário ninja apontando sua revolta contra a usina de inflação do
governo popular S.A. E Dilma pode ir ao aniversário do PT apoiar os mensaleiros
presos — numa boa, sem nem um herói das ruas para vaiá-la na saída.
Santiago
não teve sorte. Quem tem sorte no país dele é Delúbio Soares, que arrecada pela
internet R$ 1 milhão em uma semana — livre de impostos e de covardes
mascarados. AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário