O computador de 'Raúl Reyes' revela que os vínculos das FARC com altos funcionários do governo de Brasil, entre eles cinco ministros, chegaram a níveis escandalosos.
“DOSSIÊ BRASILEIRO”
No entardecer de sábado 19 de julho, na fazenda Hatogrande, a casa presidencial ao norte de Bogotá, o presidente Álvaro Uribe, sorridente e a vontade como poucas vezes, não teve dúvidas em oferecer ao seu homólogo brasileiro Luis Inácio 'Lula' da Silva, um copo de aguardente antioqueño para mitigar o frio que silenciava os ossos.
O copo selou a primeira parte da intensa jornada que havia começado na sexta-feira, 18, e que terminaria no domingo em Leticia, com a celebração do Dia da Independência. Uma celebração que, como nunca, congregou artistas do naipe de Shakira, e da qual, também participou o presidente peruano Alan García.
A agenda 'Lula' e Uribe, ao redor de acordos bilaterais, foi condimentada com mútuos elogios públicos. O presidente Uribe agradeceu ao seu homólogo brasileiro e ao seu governo pelos seis anos de relações bilaterais e de confiança. Sem embargo, em uma reunião privada que tiveram, com poucas testemunhas presentes, Uribe fez ao 'Lula' um breve resumo sobre uma série de arquivos que as autoridades colombianas encontraram nos computadores de 'Raúl Reyes', e que comprometia a cidadãos e funcionários de seu governo com as FARC.
Ao contrário do que se passou com a informação relacionada com servidores do Governo Rafael Correa e cidadãos equatorianos, que Uribe tornou pública, no caso do Brasil as instruções do Presidente foram a de mantê-las em reserva e manejá-las diplomaticamente para não deteriorar as relações comerciais e de cooperação com o governo de 'Lula'.
O Governo colombiano tem usado de forma seletiva os arquivos do PC de 'Raúl Reyes'. Porém, com o Equador e Venezuela os dados foram utilizados de forma a colocar em “xeque” a posição de Chávez e de Correa, hostis com Uribe. Já com o Brasil o presidente colombiano tem utilizado os dados, por debaixo da mesa, para não comprometer ao Lula da Silva, que tem se mostrado mais hábil e menos pugnaz com a Colômbia, que seus outros colegas.
Ainda assim, alguns meios de comunicação brasileiros teriam informações parciais sobre uns poucos arquivos, e por isto, em 27 de julho consultaram ao ministro da Defesa Juan Manuel Santos, quem, em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, confirmou que o Governo colombiano havia informado ao 'Lula' sobre o tema. "Tem uma série de informações de conexões que entregamos ao Governo brasileiro para que possa atuar como considere mais apropriado", disse Santos, porém, ele se absteve comentar sobre se havia ou não políticos e funcionários oficiais com nexos com o grupo que hoje encabeça 'Alfonso Cano'.
Às declarações do Ministro Santos, o assessor de Lula, o Marco Aurélio García, respondeu imediatamente, qualificando como irrelevantes os dados colhidos pela Colômbia.
'O PADRE CAMILO'
Não se sabe com exatidão, quantas e quais foram as informações detalhadas que o presidente Uribe deu ao presidente 'Lula', porém, o que se pode dizer é que "o dossiê brasileiro" teria implicações muito mais sérias que as informações relacionadas com a Venezuela e o Equador.
O jornal CAMBIO teve acesso a 85 correios eletrônicos que, entre fevereiro de 1999 e fevereiro de 2008, circularam entre 'Tirofijo', 'Raúl Reyes', 'el Mono Jojoy', 'Oliverio Medina' -delegado das FARC no Brasil – e dois homens identificados como 'Hermes' e 'José Luis'.
A julgar pelo conteúdo das mensagens, a presença das FARC no Brasil chegou até as altas esferas do governo de Lula, o PT - o partido do Presidente à direção política e à administração da Justiça. Nos e-mails são mencionados cinco ministros, um procurador geral, um assessor especial do Presidente, um vice-ministro, cinco deputados, um conselho e um juiz superior.
O personagem central dos correios é 'Oliverio Medina', também conhecido como 'O Padre Camilo', um sacerdote que ingressou nas FARC em 1983, e quem em sua rápida ascensão chegou a ser secretario de 'Tirofijo'. Ele chegou ao Brasil como delegado especial das FARC em 1997 e esteve na Colômbia durante o processo de Caguán, no qual se fez o chefe de imprensa do grupo.
Entre os 85 correios conhecidos pelo jornal CAMBIO, existe um sem data, também enviado por 'Medina' a 'Reyes', que diz: "Estive falando com a deputada federal María José Maninha. Ela disse que vai abrir-me caminho rumo ao Presidente via Marco Aurélio García". García é o secretario de Assuntos Internacionais.
Outro e-mail:
As FARC também tentaram chegar ao despacho do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorin. Em um correio de 22 de fevereiro de 2004, 'José Luis' escreve a 'Reyes': "Por intermédio do legendário líder do PT Plínio Arruda Sampaio, chegamos ao Celso Amorín, atual ministro de Relaciones Exteriores. Plínio nos mandou dizer com Alberto (concejal de Guarulhos) que o Ministro está disposto a receber-nos. Que tão logo tenha espaço em sua agenda nos receberá em Brasília”. Tradução parcial do texto - por Arthur do MOVCC
ALGO A SE CONSIDERAR - OPINIÃO DO BLOG
Essa matéria de capa da Revista CAMBIO (que pertence ao grupo do maior jornal da Colômbia – El Tiempo.com), também está com uma chamada na primeira página deste jornal. É uma reportagem inteira escancarando as ligações entre as FARC e o governo Lula.
Cabe aqui, uma pergunta: Se Uribe tinha intenção de tratar do assunto - por “debaixo da mesa” - como afirma a reportagem (para não prejudicar sua relação bilateral com o governo Lula), o que terá motivado a divulgação do conteúdo do dossiê? A quem interessaria que tais vínculos entre os terroristas e o governo Lula fossem expostos na imprensa? Ao Chávez?
De qualquer forma, prejudicando ou não a relação entre os dois paises, o fato é que um trabalho verdadeiramente jornalístico não tem o direito de omitir informações como estas. Ao contrário do que costuma fazer nossa imprensa brasileira que, segundo a própria revista colombiana, está de posse (parcial) de tal informação.
Além do mais, o presidente Uribe deve saber que Lula sempre faz tudo ao contrário do que afirma que vai fazer. Acreditar que o governo brasileiro tomará providências com relação ao assunto, soa um tanto ingênuo. Que o diga a postura do MAG, quando questionado sobre as informações repassadas ao Lula. E outra: O presidente Uribe chegou onde chegou, não foi por excesso de boa-fé.
Mais provável é que os planos de Uribe fossem outros com relação a não expor tais vínculos. Ou então, o próprio governo colombiano achou melhor “vazar”, agora, o conteúdo do dossiê - já considerando que “deste mato não sai coelho”. Ou, pode mesmo ser coisa do Chávez tentando acabar com a "lua de mel" entre os dois governos. Vai saber?
Pouco importa a motivação dessa matéria divulgada hoje. Ela é deveras importante para o momento político que vive nosso Brasil. É uma das poucas verdades trazidas à tona, nestes tempos de lulismo, que se fosse depender da nossa imprensa não chegariam ao conhecimento público JAMAIS. Por Gaúcho/Gabriela
O restante da matéria você pode ler aqui (em espanhol)
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