Chávez menor

Editorial - O Globo

Os eleitores venezuelanos deram ao governo e à oposição motivos para comemorar nas eleições estaduais e municipais. O chavismo tem números vistosos para mostrar: a vitória em 17 dos 22 estados do país. Mas eles são enganadores. Os opositores ganharam mais três estados importantes - o industrial Carabobo, o populoso Miranda e Táchira, na fronteira com a Colômbia -, além de conservarem o poder em Zulia, o estado mais populoso, e Nueva Esparta. Venceram também nas duas cidades mais importantes do país - a capital Caracas, e Maracaibo - e na municipalidade de Sucre, adjacente a Caracas, e onde se encontram grandes favelas, que costumavam votar em Chávez.

De modo geral, a oposição avançou nos grandes centros e nos estados mais populosos - controla agora áreas com mais de um terço da população. O chavismo se interiorizou e grande parte de suas vitórias se deu em estados rurais. Que Chávez e sua máquina continuam muito poderosos, não resta dúvida. Seus seguidores controlam a Suprema Corte, a Assembléia Nacional, a burocracia federal e todas as empresas estatais. Mas sua margem de manobra, depois de perder o referendo de dezembro de 2007 e após as eleições de domingo, se estreitou.

Antes do pleito, o presidente fizera ameaças destemperadas de, por exemplo, mandar tanques às ruas se perdesse em Carabobo. Ontem, ele proclamava que agora ninguém duvida que a Venezuela seja uma democracia. O problema é o que ele entende por democracia. A mais perfeita seria a que lhe atribuísse vitória em todos os estados, municípios e câmaras, pois de ninguém esconde o objetivo de propor emenda constitucional para se recandidatar em 2013.

Chávez conseguiu evitar o pior com o apertado triunfo do irmão no estado de Barinas, dominado por sua família. A oposição ganhou em grandes centros políticos e econômicos e num simbólico centro do poder chavista - as favelas de Petare, em Sucre.

Como a oposição é fragmentada, a expressiva votação que recebeu contém uma mensagem de cansaço e desilusão do eleitorado diante das promessas não cumpridas do chavismo após 10 anos no poder. A má notícia para Chávez é que, com o petróleo em queda livre, se esvai seu poder de reação para ampliar os programas assistenciais populistas. O que fica em evidência é a violência urbana, o desabastecimento e a inflação. Some, assim, boa parte do encanto do "socialismo bolivariano". As eleições testam o espírito democrático do caudilho.



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TERROR USA DEFICIENTES PARA COMETER ATENTADOS

Diretor de hospital psiquiátrico é preso sob suspeita de cumplicidade em ações como a de ontem que matou seis pessoas

Uma estratégia cruel está sendo utilizada pelo terror no Iraque. O general Qassem Atta, do Comando de Operações iraquiano, confirmou que a autora de um dos atentados cometidos ontem em Bagdá sofria de retardo mental – e que o uso de deficientes nessas ações tem sido corriqueiro.

Também ontem, essa estratégia dos extremistas levou à prisão o diretor de um hospital psiquiátrico – ele foi acusado de cumplicidade com o planejamento das ações.

O atentado, próximo à entrada da chamada Zona Verde, matou seis pessoas e feriu 14. Pouco antes, também em Bagdá, outra bomba havia explodido na passagem de um ônibus de funcionários públicos, deixando 12 mortos e cinco feridos.

Não é a primeira vez que se registra o uso de deficientes em ações terroristas no Iraque. No dia 1º de fevereiro, duas mulheres, uma delas com deficiência mental, detonaram dois artefatos que escondiam sob suas roupas em um mercado de animais, com saldo de 98 mortos. Pouco depois, em 6 de março, as autoridades policiais detiveram um homem também deficiente, antes que ele fizesse explodir outra bomba que levava consigo, na cidade de Ramadi, na província de Al-Anbar.

Após o primeiro atentado, forças militares dos EUA no Iraque já haviam detido o diretor de um hospital psiquiátrico de Bagdá por suspeitas de colaborar com a Al-Qaeda, fornecendo dados sobre doentes mentais para que fossem transformados em bombas humanas. Os incidentes de ontem ocorreram em meio aos preparativos dos parlamentares iraquianos para votar, amanhã, um novo pacto de segurança com os EUA. O texto, polêmico, prevê a retirada americana do Iraque até dezembro de 2011. Material do Zero Hora

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