Eles só queriam trocar de ditadura

COISAS DA POLÍTICA - Jornal do Brasil – Por Augusto Nunes

Ainda bem que a gente não chegou ao poder, porque, se isso acontecesse, teria de devolver no Dia seguinte", sorriu Vladimir Palmeira no meio do debate promovido na noite de lançamento do livro de Evandro Teixeira sobre a Passeata dos 100 Mil. "A gente não tinha preparo para governar país nenhum, todo mundo sabia muito pouco", admitiu. Se parasse por aí, o carismático alagoano que comandou os estudantes do Rio nos barulhos de 1968 teria resumido com elogiável precisão o estado geral do Brasil daqueles tempos. Mas Vladimir continua, 40 anos depois, louco por um microfone. E desandou na fantasia: "A gente não tinha nem mesmo um projeto de poder".

Os líderes tinham, sim, e Vladimir era o primeiro entre eles. Quem não tinha era a "massa de manobra", como se referiam os chefes à multidão dos anônimos, obedientes às ordens emanadas da comissão de frente, dos chefes de alas ou dos padrinhos da bateria. O rebanho queria a ressurreição da democracia. Os pastores queriam outra coisa, confirma Daniel Aarão Reis, ex-militante do MR-8, ex-exilado e hoje professor de história da Universidade Federal Fluminense.

"As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária", fala de cadeira Aarão Reis, que no fim da década de 60 foi o principal ideólogo de uma dissidência do PCB que seria o embrião do MR-8. Mas Aarão Reis, como Fernando Gabeira, é daqueles que se preparam a vida inteira para a vida inteira, e são sempre contemporâneos do mundo ao redor. Para ele, 1968 estendeu-se além de dezembro, mas terminou. O historiador enxerga com nitidez o que a maioria dos antigos líderes, todos sessentões mas ainda estacionados nos anos de chumbo, nem parecem vislumbrar.

"Não compartilho da lenda segundo a qual fomos – faço questão de me incluir – o braço armado de uma resistência democrática", constata. "Não existe um só documento dessas organizações que optaram pela luta armada que as apresente como instrumento da resistência democrática". A dissimulação prevalecia também nos cursinhos intensivos que formavam em marxismo-leninismo jovens que jamais passavam da terceira vírgula de O Capital. Só na entrega do diploma o monitor avisava que, depois da ditadura militar, viria a do proletariado, que substituiria a bala o capitalismo cruel. Os alunos, pinçados na "massa de manobra", não descobriam de imediato que estavam lutando por um regime tão infame quanto o imposto ao Brasil.

Os líderes não eram assim tão jovens: quem está perto (ou já passou) dos 25 anos não tem direito a molecagens e maluquices. E todos ficavam sob as asas de tutores com larga milhagem. Tão duros com o rebanho, os pastores obedeciam sem chiar aos comunistas veteranos que chefiavam as seitas. O sessentão Carlos Marighela, por exemplo, ensinava aos pupilos da ALN a beleza que há em "matar com naturalidade", ou por que "ser terrorista é motivo de orgulho". Deveriam orgulhar-se da escolha feita quando confrontados com a bifurcação a bifurcação escavada pelo AI-5, cumprimentava o mestre.

A rota à esquerda levava à frente de batalha onde guerreiros apoiados pelo povo aniquilariam o exército da ditadura. Vergonha deveriam sentir os que enveredaram pela caminho à direita, que desembocava na capitulação ultrajante. Surdos aos equivocados profissionais, os que se mantiveram lúcidos desbravaram uma terceira trilha e alcançaram o acampamento da resistência democrática. Estivemos certos desde sempre. Desarmados, prosseguimos a guerra contra o inimigo que os derrotara em poucos meses. E a resistência democrática venceu.

Nós lutamos pela implosão dos porões da tortura. Eles estavam longe quando Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho foram executados. E longe continuavam quando militares ultradireitistas tentaram trucidar a abertura política. Eles só voltaram do exílio e escaparam do cárcere porque nós conseguimos a Anistia. A lei deve ser revista? Problema dos vitoriosos, que somos nós. Não deles, os que perderam todas, perderam tudo – menos a arrogância. Nós ressuscitamos a democracia. Eles se fantasiam de feridos de guerra. Exigiram empregos, indenizações, mesadas. Agora tentam expropriar a Anistia. Nós não lhes devemos nada. Eles nos devem até vida.






MILITARES NÃO SÃO ÚNICOS CULPADOS, DIZ EX-PRESO POLÍTICO

Paulo de Tarso disse em entrevista à rádio Eldorado que não acha relevante a revisão da Lei da Anistia - da Redação – O Estado de São Paulo

O economista e ex-preso político Paulo de Tarso Venceslau, se posicionou contra a revisão da Lei da Anistia, ao dizer que os militares não são os únicos culpados pelas atrocidades no período militar. "Não tem porque mexer nessa lei agora. A história é feita por versões e interpretações. Eu fiquei preso cinco anos e meio, fui torturado, e acho que não tem de mexer porque a gente também cometeu erros, não é só do lado dos militares", afirmou Tarso em entrevista à rádio Eldorado nesta terça-feira, 11.

Para o ex-preso político, a polêmica em torno da lei não é relevante já que a História já condenou os culpados. " Na verdade, o que todo mundo está querendo é que os torturadores sejam punidos hoje. Acho que é um processo que não vai frutificar, nem deve frutificar, porque mais que persegui-los com as leis hoje, eles já estão condenados pela própria História".

Paulo de Tarso acredita que a defesa do ministro da Justiça, Tarso Genro, para que a lei seja revista tem fundo político. "Ele deve estar fazendo uma média com o pessoal mais de esquerda. É mais uma jogada para a platéia que uma garantia, uma luta política reforçada em qualquer coisa mais generosa e ambiciosa. É alguma coisa pensando em 2010 e por aí vai", concluiu.






BRASIL NÃO TEM AS FARC GRAÇAS AOS MILITARES, DIZ ARTICULISTA

Por
Jacqueline Lopes – do Midiamaxnews – MS

“Se o Brasil não tem as FARC é porque o Exército e a Marinha foram ao Araguaia para fazerem um limpa naquela região”. A idéia é do articulista, jornalista, escritor carioca Aristóteles Luiz Meneses Vasconcellos Drummond, de 64 anos, durante palestra no auditório do Comando da Base Aérea de Campo Grande atendendo convite do Comando da Base Aérea de Campo Grande e do site de notícias Midiamax.

A Guerrilha do Araguaia é considerada como o mais importante - e até hoje mais controverso grupo armado brasileiro que se envolveu em confrontos com militares. Ocorrida no início da década de 1970, a guerrilha levou este nome por ter sido travada em localidades próximas ao Rio Araguaia, na divisa entre os atuais estados do Pará, Maranhão e Tocantins (na época, pertencente ao Estado de Goiás). A guerrilha foi organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), que, desde meados dos anos 1960, já mantinha militantes na região do conflito.

Para a platéia formada por militares da FAB (Força Aérea Brasileira) e do Exército, Drummond ressaltou que há uma faceta da história velada. De acordo com ele, o movimento de esquerda brasileiro tem “as mãos manchadas de sangue”.

Drummond, que é filiado ao PP (antiga Arena), e considera o Golpe Militar de 1964 a Revolução, afirma que no episódio da Guerrilha do Araguaia pessoas inocentes foram mortas pelos comunistas. No confronto, guerrilheiros também foram mortos por militares.

Polêmico, durante a palestra "A presença militar na vida republicana brasileira" não poupou criticas ao Partido dos Trabalhadores, mas preservou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o articulista, o presidente está cercado por um grupo contrário aos militares.

Drummond defende que agora não é momento do Brasil discutir crimes de tortura na época da ditadura militar. "Temos direito de sonhar com Brasil cada vez melhor". Outro ponto polêmico citado durante a palestra diz respeito ao chamado "apagão aéreo".

“Não houve apagão aéreo e sim, uma tentativa de expulsar os militares do tráfego aéreo”, frisa. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divide com a FAB a responsabilidade de controlar os vôos do país embora seja a Anac o órgão criado para fazer o trabalho.

Currículo
Drummond escreve artigos para o Jornal do Brasil. O empresário, dono do Midiamax, Carlos Eduardo Naegele, ressaltou durante a abertura da palestra a importância do trabalho militar na sociedade e a colaboração de Drummond como jornalista articulista do Midiamax.

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