Por trás do seu sorriso

Quem vê o sorriso espontâneo do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, talvez não imagine que o democrata foi beneficiário da mais completa máquina montada na história para analisar as preferências do eleitor. - Por Plínio Fraga - Folha de S. Paulo

"Microtargeting" é a palavra-chave pare entender a estratégia eleitoral de Obama. Consiste em atuar, como permite deduzir a palavra em inglês, em microalvos, utilizando-se de modelos matemáticos e computadores. Reportagem do "New York Times" explicou como.

Os computadores eram alimentados com dados diversos de uma determinada região: quais os carros mais vendidos, quais as revistas e os jornais mais lidos, quais os produtos mais consumidos, qual a quantidade e linha de grupos culturais, sociais e econômicos preponderantes, além das óbvias informações de renda e escolaridade. A partir daí, era possível construir um arcabouço sobre quais valores e conceitos eram mais importantes para aquela comunidade e adequar o discurso do candidato e as inserções publicitárias a esses anseios.

Por exemplo, uma região de forte atuação de grupos cristãos conservadores, tradicionalmente republicana, mostrou-se bastante sensível a discursos em defesa do ambiente. Tinha uma das maiores taxas de reciclagem de lixo do país. Para conquistar esses eleitores, a campanha de Obama tentava demonstrar quanto o democrata era mais receptível ao tema do que McCain.

O "microtargeting" começou a ser usado pelos republicanos em 2000, mas foi potencializado pelos milhões de dólares arrecadados pelos democratas, que permitiram a extensão das suas bases de dados.

Há muito as campanhas deixaram de ser conduzidas por uma mal definida sapiência política e estão cada vez mais submetidas às regras mercadológicas. Pouca coisa era espontânea na campanha de Obama, talvez nem mesmo o seu sorriso.



NA ONDA BARACK OBAMA
Uma produtora independente produz o documentário Raça, sobre a questão racial no Brasil. Além de quilombolas, os produtores escolheram o senador Paulo Paim (PT-RS) como protagonista. Ontem, o grupo não desgrudou do petista nem na hora das entrevistas. Correio Braziliense



O LULA DE LÁ
Rahm Emanuel, o chefe de gabinete de Obama, também perdeu um dedo no trabalho. Por Ancelmo Góis – O Globo

Uma ressalva importante na Nota do Ancelmo: O “Lula de lá”, perdeu o dedo AT WORK. Got it? Por Gaúcho/Gabriela







BAIXOS PREÇOS DO PETRÓLEO AMEAÇAM FUTURO DE CHÁVEZ

A revolução bolivariana que se desmancha em saliva feito “algodão doce”

A queda vertiginosa dos preços do petróleo iniciou um debate acalorado na Venezuela quanto ao possível efeito sobre sua economia dependente do combustível – e o futuro político do presidente esquerdista, Hugo Chávez.

Maior exportadora de petróleo no hemisfério ocidental, a Venezuela é particularmente vulnerável aos preços oscilantes do recurso. Mais de 90% de sua receita de exportação depende da extração do petróleo.

O ex-dirigente do banco central venezuelano, Domingo Maza Zavala, acredita que uma queda abaixo de US$ 70 o barril significaria que o atual nível de atividade econômica não poderia ser mantido.

– Estamos à beira de um precipício e devemos nos preparar para contingências – disse Maza Zavala.

Analistas apontam, no entanto, que o principal fator é a média de preços durante vários meses e não o valor do barril em um só dia.

– Não há chance de um colapso econômico este ano – contou Jose Manuel Puente, do Centro de Políticas Públicas, em Caracas. – Mesmo que os preços continuem baixos durante o restante do ano, a média para 2008 permanecerá em cerca de US$ 95 o barril.

Porém, mesmo que o horizonte pareça sólido à curto prazo, o próximo ano pode ser diferente se o barril do petróleo permanecer constantemente abaixo de US$ 60, afirmam analistas.

–Tudo está ligado ao boom do petróleo – disse Puente. – Se o preço continuar a cair, o país será simplesmente incapaz de continuar a importar bens para satisfazer uma demanda crescente, manter a taxa de câmbio, a expansão da política fiscal e preservar esta harmonia ilusória.

O café, por exemplo, já desapareceu de muitos supermercados venezuelanos, ressaltando problemas econômicos enfrentados pelo país antes das eleições locais e regionais do dia 23 de novembro, quando políticos aliados ao presidente Hugo Chávez podem perder cargos importantes.

Advertência
Chávez com sua belicosidade crescente advertiu que poderá levar tanques às ruas se integrantes correligionários de seu Partido Socialista perderem as eleições municipais no próximo mês.

– Se deixarem a oligarquia voltar ao governo talvez eu tenha que enviar os tanques da brigada armada para defender o governo da revolução – havia ameaçado.

Um contingente militar foi colocado nesta terça-feira o aeroporto de Carúpano, cidade na região leste da Venezuela, em meio a desentendimentos entre o governador do estado de Sucre, Ramón Martínez, e o governo federal. O prefeito de Carúpano, José Regnault, disse que Chávez deu a ordem após acusar o governador de impedir a instalação de escritório da estatal petrolífera PDVSA. - Jornal do Brasil






GOVERNO REABILITA 2.274 FILANTRÓPICAS SUSPEITAS

VITÓRIA DA QUADRILHA DO "PAGOU, ISENTOU" - Governo renova, por MP, títulos de filantropia de empresas envolvidas em fraude - Por Leila Suwwan - O Globo

Uma medida provisória editada pelo presidente Lula concede uma espécie de anistia a pelo menos 2.274 entidades filantrópicas que estavam ameaçadas de perder o direito à isenção fiscal. A decisão renova automaticamente o certificado de filantropia dessas entidades, que fora suspenso ou cancelado pelo Conselho Nacional de Assistência Social por suspeita de irregularidades. Entre as beneficiadas estão organizações investigadas pela Polícia Federal na Operação Fariseu, que apurava fraudes na concessão de títulos de filantropia. Segundo o Ministério Público, a medida assegura isenção fiscal de R$ 2,1 bilhões. “A MP beneficia quem cometeu fraudes e quem não atende aos requisitos legais para ser entidade filantrópica”, afirmou o procurador Pedro Antônio Machado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou uma medida provisória que concede uma espécie de anistia para entidades filantrópicas que estavam ameaçadas de perder os benefícios de isenção fiscal. Com uma canetada, foram renovados automaticamente os certificados de pelo menos 2.274 entidades beneficentes, inclusive as que estão sob suspeita de fraudar o governo federal para obter ou renovar o título de filantropia. Parte das entidades beneficiadas pela medida provisória foi alvo da Polícia Federal em março, na Operação Fariseu, por participação num esquema de pagamento de propina para obter ou renovar certificados. O Ministério Público Federal estima que a MP deverá garantir uma isenção de R$2,144 bilhões às filantrópicas.

Mas esse número pode ser ainda maior porque existem outros 8,3 mil processos que estavam sendo analisados no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), de entidades que também podem ser beneficiadas pela decisão do governo. Órgão do Ministério do Desenvolvimento Social, o CNAS é responsável pela concessão e renovação dos Certificados de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas). Esse certificado dá direito a isenção. Quem perde o certificado por alguma irregularidade é obrigado a devolver o dinheiro dos impostos que deixou de recolher aos cofres públicos por causa da isenção.

A edição da MP impedirá, portanto, que a Receita Federal recupere as dívidas fiscais que seriam cobradas das entidades. Parte dos débitos começará a prescrever em dezembro. No governo, ninguém sabe precisamente o impacto financeiro dessa anistia.

PF prendeu seis na Operação Fariseu
A Operação Fariseu, da Polícia Federal, prendeu seis pessoas e desbaratou um esquema de concessão fraudulenta de certificados dentro do CNAS. Após quatro anos de investigação, foram reunidas provas, inclusive gravações telefônicas, que resultaram em denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente do conselho, Silvio Iung, e três ex-conselheiros, Misael Barreto, Ademar Marques e Euclides Machado.

Eles são acusados de crimes de advocacia administrativa fazendária, corrupção ativa e passiva, e formação de quadrilha. O esquema conseguia, em troca de propina, concessões e renovações de Cebas para entidades que não se enquadravam nas exigências legais. Ainda estão sob sigilo outros desdobramentos da Fariseu, que podem resultar em novas denúncias contra outras entidades filantrópicas.

- Entidades investigadas podem se beneficiar da isenção - disse o procurador da República Pedro Antônio Machado, responsável pela denúncia contra os ex-conselheiros. Segundo ele, além da anistia concedida, há preocupação sobre as novas regras de concessão dos Cebas, já que os ministérios não estão equipados para fazer a análise técnica e contábil.

Hoje, existem 5.630 entidades certificadas atuando nas áreas de assistência social, saúde e educação. Elas são isentas de pagamento da contribuição previdênciária patronal (20% da folha de pagamento), CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), PIS e Cofins. Essa isenção gerou uma renúncia de R$4,4 bilhões em 2007 e R$3,6 bilhões de janeiro a setembro deste ano.

No final deste ano, começa a vencer o prazo de cinco anos para a Receita cobrar dívidas de empresas que têm 1.654 recursos administrativos parados no Ministério da Previdência ou no CNAS. O governo sustenta que não há tempo hábil ou estrutura para fazer a análise dos processos, muitos dos quais abertos a partir de questionamentos feitos pela própria Receita, que detectou irregularidades.

A MP 446, assinada na última sexta e publicada anteontem no Diário Oficial da União, considera extintos os recursos em tramitação e decide sempre a favor das entidades. Todas as filantrópicas que pediram renovação da isenção fiscal serão atendidas automaticamente. Até aquelas que já tiveram seus pedidos de renovação negados, mas entraram com algum recurso, também conseguirão um novo certificado, sem maior análise. E ficam extintos os recursos que questionam os certificados de parte das entidades.

- É um equívoco dizer que a medida provisória concede uma anistia. Os governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso fizeram isenções semelhantes, com a diferença de que não solucionaram o problema. Nós estamos acabando com o cartório que o CNAS é hoje. Os processos estão parados, os novos conselheiros têm medo de ações civis públicas - disse Arlete Sampaio, secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social, referindo-se à Operação Fariseu.

Além de renovar certificados sob questionamento, a MP muda responsabilidades. Pelo texto, caberá agora a três ministérios a concessão do título de filantropia: Desenvolvimento Social, Saúde e Educação.

- Caberá aos ministérios fazer essa preparação. Os recursos que estão aí serão extintos e as entidades ficarão com seus certificados, mas os casos voltarão para certificação em cada pasta e serão reavaliados. Depois, a Receita ou a Fazenda poderão recorrer novamente. Não há nada consolidado ad infinitum. Todos estão olhando essa anistia e estão esquecendo que estamos resolvendo o problema num sistema que estava todo errado. Era preciso zerar o jogo - disse Arlete.

Porém, ela não soube precisar quanto tempo isso vai demorar nem qual será o impacto da transição, já que não é possível cobrar dívidas de irregularidades ocorridas há mais de cinco anos, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). As equipes dos ministérios ainda terão de ser montadas.

O governo alegou pressa para editar a MP 446 justamente por causa do vencimento dos prazos para cobrar as dívidas. Em nota, o Ministério da Previdência, que antes sediava o CNAS, informou que "o julgamento destes processos em tão curto prazo de tempo poderia comprometer a análise, com impacto na prestação de serviço à população".

- Antes era quase sem controle, agora vai ficar ainda mais solto, poderão entrar mais fatores políticos nas análises. E a anistia é absolutamente inadequada, pois vai perdoar o ninho de pilantragem que existe - disse Ovídio Palmeira Filho, dirigente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

Um comentário:

Anônimo disse...

Petróleo a US$ 56,16 por barril ( nível mais baixo desde o final de 2006). Os emprestáveis não são de nada sem o dinheiro dos outros (do povo)