NA PAUTA: A DECISÃO INCONSEQUENTE DE TARSO
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, deverá receber hoje o embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise. Eles discutirão as consequências da decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de dar refúgio ao italiano Cesare Battisti.
Mendes já indicou que é contra o pedido da defesa de Battisti para que o processo de extradição seja arquivado e o italiano, que está preso em Brasília, seja libertado. Na semana passada, ao invés de decidir o pedido, Mendes resolveu submetê-lo à análise do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sob o argumento de que havia uma novidade: o refúgio fora concedido pelo ministro da Justiça, não pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare). - Mariângela Gallucci - O Estado de S. Paulo
ZELO CABÍVEL
Faz sentido a decisão do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de pedir ao procurador-geral da República que avalie o ato do ministro Tarso Genro de conceder refúgio ao italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país. Ele foi considerado culpado de homicídios. Mesmo que a decisão seja prerrogativa do ministro, ela atropelou o Conare, favorável à extradição de Battisti, inclusive com o voto do secretário-geral do Ministério da Justiça.
Além de criar grave crise diplomática com a Itália, que este ano preside o G-8, a concessão do status de refugiado político ao ex-militante de um grupo de terroristas de esquerda está sendo entendida como resultado de simpatias ideológicas de parte da cúpula do governo Lula com Battisti. O caso, portanto, merece mesmo ser examinado com cautela pelo Ministério Público e o Supremo. Decisões de Estado não podem sofrer este tipo de contaminação. – O Globo
NÓS, NÃO!
Circula na internet, traduzido, um abaixo-assinado ao governo italiano e ao jornal La Stampa, de brasileiros contra o asilo de Cesare Battisti. “A postura do governo brasileiro não reflete o nosso temperamento”, diz. – Por Cláudio Humberto
UM CASO EM QUE O HOMEM É A MENSAGEM
Hoje Barack Obama finalmente terá a chance de dizer alguma coisa memorável. Essa afirmação pode parecer ranzinza, já que estou falando de um homem elogiado como um dos grandes oradores de sua era. No entanto, Obama aperfeiçoou a arte de soar maravilhoso sem dizer grande coisa. Por Gideon Rachman, do Financial Times
Eu estive no estádio em que Obama fez seu discurso de aceitação da candidatura presidencial, na Convenção Nacional do Partido Democrata, em agosto. Foi hipnótico, comovente. Mas, estranhamente, não lembro coisa alguma do que ele disse.
Essa amnésia é um sintoma bastante comum. Uma consulta rápida a colegas revela que a única frase do novo presidente que ficou alojada de forma indelével em nosso cérebro coletivo foi o "yes, we can". Alguns poucos mencionaram "mudança em que se pode acreditar".
Hoje, quando ele fizer seu discurso de posse em Washington, Obama sem dúvida fascinará sua audiência uma vez mais. Também terá a chance de enfim fazer um discurso cujas sentenças ressoem na história. Mas talvez seja mais sábio para ele deixar isso de lado. Pois, no caso de Barack Obama, o homem é a mensagem. Obama inspira não por conta de qualquer coisa que diga, mas simplesmente por ser quem é.
Michael Gerson, redator de discursos para o presidente George W. Bush, disse que, quando leu os discursos de posse de todos os presidentes, se tornou óbvio para ele que o tema central da história americana é a questão racial. Só por subir ao palanque como o primeiro presidente negro dos EUA, Obama está enviando uma mensagem de mudança. Mas não é apenas a etnia de Obama que envia uma mensagem. Mesmo nos casos em que não diz nada de memorável, o domínio que tem sobre a linguagem e sua evidente inteligência oferecem um alívio.
Durante a campanha, Obama enviou outra mensagem por manter a calma durante o colapso em Wall Street, enquanto seu rival, John McCain, se debateu melodramaticamente com o tema. Obama se comportou de modo presidencial.
O novo presidente tem consciência de que suas qualidades elusivas só reforçam seu poder político. No prólogo de "A Audácia da Esperança", ele escreveu que serve "como uma tela vazia na qual pessoas de inclinações políticas diferentes projetam suas opiniões". Obama parece estar conseguindo realizar o mesmo truque no resto do mundo. Ele é ainda mais popular no exterior do que no seu país. Mas o restante do mundo tampouco tem em que se apoiar. As pessoas sabem que Obama parece um homem ponderado, que é negro, que se opôs à Guerra do Iraque e que acredita em diálogo. E sabem que ele não é Bush. Esse ponto é crucial. A eleição presidencial revelou não apenas uma tensão entre dois Estados Unidos que Obama prometeu reconciliar - o liberal [progressista] e o conservador. Ela também revelou a divisão entre o excepcionalismo e o universalismo americanos. O excepcionalismo americano gostaria de manter o país isolado do restante do mundo.
Caso o país seja governado por excepcionalistas, tenderá à introspecção, adotará controles de fronteira mais severos, aumentará as tarifas e venerará ainda mais as Forças Armadas.
Já o universalismo envolve um país que contempla o resto do mundo com atenção e prospera em função de suas conexões com ele. Com um pai queniano, uma infância passada em parte na Indonésia e um segundo nome (Hussein) que o vincula ao Oriente Médio e ao mundo islâmico, Obama parece personificar um país muito diferente daquele que Bush representa com seu estilo texano monocultural.
Portanto, no exterior como em seu país, o novo presidente dos EUA é uma "tela vazia" na qual as pessoas projetam suas visões. Hoje, ao pronunciar seu discurso de posse, Obama poderá manter as generalizações que inspiraram tanta gente.
Mas, quando ele estiver no poder, isso vai mudar. Governar é escolher. Como presidente, Obama por fim será julgado não pelo que é ou diz, mas sim pelo que faz. - Folha de São Paulo
Tradução de PAULO MIGLIACCI
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, deverá receber hoje o embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise. Eles discutirão as consequências da decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de dar refúgio ao italiano Cesare Battisti.
Mendes já indicou que é contra o pedido da defesa de Battisti para que o processo de extradição seja arquivado e o italiano, que está preso em Brasília, seja libertado. Na semana passada, ao invés de decidir o pedido, Mendes resolveu submetê-lo à análise do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sob o argumento de que havia uma novidade: o refúgio fora concedido pelo ministro da Justiça, não pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare). - Mariângela Gallucci - O Estado de S. Paulo
ZELO CABÍVEL
Faz sentido a decisão do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de pedir ao procurador-geral da República que avalie o ato do ministro Tarso Genro de conceder refúgio ao italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país. Ele foi considerado culpado de homicídios. Mesmo que a decisão seja prerrogativa do ministro, ela atropelou o Conare, favorável à extradição de Battisti, inclusive com o voto do secretário-geral do Ministério da Justiça.
Além de criar grave crise diplomática com a Itália, que este ano preside o G-8, a concessão do status de refugiado político ao ex-militante de um grupo de terroristas de esquerda está sendo entendida como resultado de simpatias ideológicas de parte da cúpula do governo Lula com Battisti. O caso, portanto, merece mesmo ser examinado com cautela pelo Ministério Público e o Supremo. Decisões de Estado não podem sofrer este tipo de contaminação. – O Globo
NÓS, NÃO!
Circula na internet, traduzido, um abaixo-assinado ao governo italiano e ao jornal La Stampa, de brasileiros contra o asilo de Cesare Battisti. “A postura do governo brasileiro não reflete o nosso temperamento”, diz. – Por Cláudio Humberto
UM CASO EM QUE O HOMEM É A MENSAGEM
Hoje Barack Obama finalmente terá a chance de dizer alguma coisa memorável. Essa afirmação pode parecer ranzinza, já que estou falando de um homem elogiado como um dos grandes oradores de sua era. No entanto, Obama aperfeiçoou a arte de soar maravilhoso sem dizer grande coisa. Por Gideon Rachman, do Financial Times
Eu estive no estádio em que Obama fez seu discurso de aceitação da candidatura presidencial, na Convenção Nacional do Partido Democrata, em agosto. Foi hipnótico, comovente. Mas, estranhamente, não lembro coisa alguma do que ele disse.
Essa amnésia é um sintoma bastante comum. Uma consulta rápida a colegas revela que a única frase do novo presidente que ficou alojada de forma indelével em nosso cérebro coletivo foi o "yes, we can". Alguns poucos mencionaram "mudança em que se pode acreditar".
Hoje, quando ele fizer seu discurso de posse em Washington, Obama sem dúvida fascinará sua audiência uma vez mais. Também terá a chance de enfim fazer um discurso cujas sentenças ressoem na história. Mas talvez seja mais sábio para ele deixar isso de lado. Pois, no caso de Barack Obama, o homem é a mensagem. Obama inspira não por conta de qualquer coisa que diga, mas simplesmente por ser quem é.
Michael Gerson, redator de discursos para o presidente George W. Bush, disse que, quando leu os discursos de posse de todos os presidentes, se tornou óbvio para ele que o tema central da história americana é a questão racial. Só por subir ao palanque como o primeiro presidente negro dos EUA, Obama está enviando uma mensagem de mudança. Mas não é apenas a etnia de Obama que envia uma mensagem. Mesmo nos casos em que não diz nada de memorável, o domínio que tem sobre a linguagem e sua evidente inteligência oferecem um alívio.
Durante a campanha, Obama enviou outra mensagem por manter a calma durante o colapso em Wall Street, enquanto seu rival, John McCain, se debateu melodramaticamente com o tema. Obama se comportou de modo presidencial.
O novo presidente tem consciência de que suas qualidades elusivas só reforçam seu poder político. No prólogo de "A Audácia da Esperança", ele escreveu que serve "como uma tela vazia na qual pessoas de inclinações políticas diferentes projetam suas opiniões". Obama parece estar conseguindo realizar o mesmo truque no resto do mundo. Ele é ainda mais popular no exterior do que no seu país. Mas o restante do mundo tampouco tem em que se apoiar. As pessoas sabem que Obama parece um homem ponderado, que é negro, que se opôs à Guerra do Iraque e que acredita em diálogo. E sabem que ele não é Bush. Esse ponto é crucial. A eleição presidencial revelou não apenas uma tensão entre dois Estados Unidos que Obama prometeu reconciliar - o liberal [progressista] e o conservador. Ela também revelou a divisão entre o excepcionalismo e o universalismo americanos. O excepcionalismo americano gostaria de manter o país isolado do restante do mundo.
Caso o país seja governado por excepcionalistas, tenderá à introspecção, adotará controles de fronteira mais severos, aumentará as tarifas e venerará ainda mais as Forças Armadas.
Já o universalismo envolve um país que contempla o resto do mundo com atenção e prospera em função de suas conexões com ele. Com um pai queniano, uma infância passada em parte na Indonésia e um segundo nome (Hussein) que o vincula ao Oriente Médio e ao mundo islâmico, Obama parece personificar um país muito diferente daquele que Bush representa com seu estilo texano monocultural.
Portanto, no exterior como em seu país, o novo presidente dos EUA é uma "tela vazia" na qual as pessoas projetam suas visões. Hoje, ao pronunciar seu discurso de posse, Obama poderá manter as generalizações que inspiraram tanta gente.
Mas, quando ele estiver no poder, isso vai mudar. Governar é escolher. Como presidente, Obama por fim será julgado não pelo que é ou diz, mas sim pelo que faz. - Folha de São Paulo
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Um comentário:
Ola visitei seu blog e achei um barato e gostaria de convidar para acessar o meu também, conferir a postagem desta semana: Era – Obama / Retro – Bush.
Sua visita será um grande prazer para nós.
Acesse: www.brasilempreende.blogspot.com
Atenciosamente,
Sebastião Santos.
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