Chavez tentou derrubar Raul Castro

Segundo ex-ministro do Exterior do México, que escreveu artigo para a Newsweek, plano teria sido frustrado pelo expurgo realizado no início do mês por Raúl, que afastou do poder Carlos Lage e Felipe Pérez Roque, duas figuras muito próximas a seu irmão mais velho, Fidel


O ex-ministro das Relações Exteriores do México Jorge Castañeda, que se tornou um importante articulista de temas latino-americanos, escreveu um
texto para a revista americana Newsweek afirmando que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, esteve envolvido em uma tentativa de golpe para derrubar Raúl Castro da Presidência de Cuba. O plano teria sido frustrado pelo expurgo realizado no início do mês por Raúl, que afastou do poder Carlos Lage e Felipe Pérez Roque, duas figuras muito próximas a seu irmão mais velho, Fidel.

Segundo Castañeda, Cuba passa por um momento semelhante ao vivido pela União Soviética em 1953, quando o ditador Joseph Stalin morreu – ninguém sabe o que está ocorrendo na disputa pelo poder da ilha. Ainda assim, escreve Castañeda, “há sólidas razões para acreditar que Lage e Pérez Roque e os outros dez expurgados estavam envolvidos em uma conspiração para tirar Raúl Castro do poder, e que, na empreitada, recrutaram – ou foram recrutados – pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez”. O mexicano afirma ainda que Chávez tentou atrair para o plano outros líderes latino-americanos, como o presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, que se recusou a participar do golpe.

O objetivo de Lage, Pérez Roque e outros conspiradores era impedir o que consideram “a traição da revolução” que está sendo promovida por Raúl. Para eles, diz Castañeda, o irmão mais jovem de Fidel está se sentindo ameaçado pela reação do povo cubano às “privações sociais e econômicas excessivas” e vê como único caminho para manter o controle do país a realização de reformas políticas e econômicas que ajudem a normalizar a relação com os Estados Unidos. Se Raúl fizer isso, pensam os revolucionários de acordo com Castañeda, será o “começo do fim da revolução”.

A história contada na Newsweek ganha ares de filme de ação quando Raúl descobre, por meio do serviço de inteligência militar cubano, o golpe para tirá-lo do poder. Com as evidências em mãos, Raúl vai a Fidel e pede para o irmão escolher de qual lado ficará. Decepcionado com Lage e Felipe Pérez Roque, Fidel ficou com o irmão, e convocou Hugo Chávez a Havana. Na ilha, Chávez recebeu duas opções: desistir do golpe e manter o apoio econômico a Cuba, ou perder o apoio do aparato de inteligência cubano, que ajuda o venezuelano a se proteger de golpes e tentativas de assassinato. Ele escolheu ficar com a família Castro.

Castañeda encerra o texto lembrando que líderes como os soviéticos Lenin, Stálin e o chinês Mao Tse-Tung não conseguiram guiar suas sucessões antes da morte, o que Fidel pode fazer. Para isso, no entanto, Raúl Castro terá que agir rápido para reaproximar a ilha dos Estados Unidos, aliviando a precária situação do povo cubano. Caso contrário, quando Fidel morrer, o humilde, jovem e popular Pérez Roque pode reclamar o título de “herdeiro natural” de Fidel e tentar assumir o poder na ilha.
Revista Época

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