Os riscos da Estadolatria para o futuro do Brasil

O discurso feito pelo presidente Lula no comício em que anunciou a nova legislação para a exploração do pré-sal revela muito do Brasil que o atual governo deseja construir. É um símbolo da mentalidade estatizante que tem marcado as ações governamentais na atual gestão. É também um sinal evidente de que o namoro de Lula com o mercado, que encantou tanta gente, não passava de uma quimera. Ele é o mais claro exemplo da Estadolatria que acomete a maioria dos políticos brasileiros: a crença em que todo progresso só existe se for gerido e controlado pelo governo.

Do petróleo aos bancos, da petroquímica ao gás, o Estado ampliou sua participação em quase todos os setores da economia nos últimos anos. Se essa estratégia for mantida nos próximos anos, todo o progresso alcançado na década de 1990, com a privatização das estatais, a reforma da Previdência e a racionalização da máquina administrativa, poderá ficar comprometido.

Ao afirmar que “o papel do governo é o de uma mãe” e que “o petróleo pertence ao povo e ao Estado”, Lula confunde os interesses da população e do Estado. Povo não é Estado. Como a maioria dos políticos, Lula pensa que a população só se beneficiará do pré-sal se a exploração estiver nas mãos do governo. Ele parece incapaz de imaginar que a geração de riqueza pode ser maior por meio da iniciativa privada. Também parece difícil para ele entender que o sistema de livre mercado foi aquele que, em toda a história humana, se mostrou o mais eficiente para estimular o aumento da produtividade e a inovação, fatores essenciais para promover a prosperidade das nações e – para empregar o termo do próprio Lula – do povo.

Não há melhor exemplo para medir os benefícios da economia de mercado que a China. Mergulhada na miséria até 1976, quando se abriu para o mundo, a China tornou-se uma das economias mais dinâmicas do planeta. Cresceu e prosperou. A qualidade de vida de sua gigantesca população melhorou como nunca. Também não existe hoje melhor exemplo para mostrar como o controle pelo Estado pode ser prejudicial ao desenvolvimento que a Cuba de Fidel Castro, tão festejada em alguns setores do governo. No mesmo período em que a China se transformou em potência global, Cuba parou no tempo, atingida pela pobreza crônica.

No Brasil, boa parte do público parece esquecer que muitos dos problemas do país nas décadas de 1980 e 1990, como a escalada inflacionária e a estagnação econômica, surgiram devido ao envolvimento do Estado em atividades que nada tinham a ver com seu papel constitucional – como mineração, siderurgia e telefonia – e a sua incapacidade de gerir com eficiência os recursos públicos. Foi justamente como reação aos descalabros cometidos pelos políticos no comando das estatais e órgãos de governo, normalmente vulneráveis à corrupção, que a ideia da privatização ganhou força no país.

Na campanha de 2002, Lula e o PT conseguiram vender aos eleitores a ideia de que a privatização foi algo nocivo. Ao candidato do governo na época, José Serra, faltou convicção para defendê-la. Em 2006, quando o candidato de oposição era Geraldo Alckmin, o problema se repetiu. Faltaram a Alckmin argumentos sólidos para realçar os benefícios das privatizações. Agora, com a campanha de 2010 nas ruas, surge uma nova oportunidade para a oposição tentar mostrar aos eleitores as vantagens do sistema de mercado e os problemas que a política estatizante do governo representa para o país. Até agora, porém, não surgiu nenhum candidato disposto a comprar essa briga. Época

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