Teerã - Repressão Selvagem

Presos foram violentados e 69 pessoas morreram desde 20 de junho, afirma a oposição

O interrogador educadamente pede desculpas à prisioneira pelo longo interrogatório sobre seu papel nos protestos, após a eleição presidencial iraniana. Então, ela é obrigada a sentar-se de frente para uma parede do pátio da penitenciária de Evin, com os olhos vendados, algemada e coberta por um xador durante quatro horas e meia, sob um sol escaldante.

"A América é nosso inimigo", diz o interrogador a ela. "Por que você é tão inocente e não consegue ver isso? Eles estão explorando a situação aqui e querem saquear o país."

A difícil experiência de Nazy, estudante universitária de 29 anos que trabalhou na campanha do candidato presidencial Mehdi Karroubi, e passou uma semana detida, dá uma rara visão do que está acontecendo com os manifestantes detidos.

Ela falou à reportagem, por telefone, de Teerã, após sua libertação, com a condição de que apenas seu primeiro nome seria divulgado, uma medida para proteger a si mesma e a sua família.

Milhares de pessoas foram detidas desde que o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi declarado vencedor da eleição, apesar das acusações de fraude. A oposição afirma que prisioneiros foram selvagemente violentados por seus carcereiros e que pelo menos 69 pessoas foram mortas, algumas das quais por espancamento.

TORTURA BRANCA
O relato de Nazy, que é conhecido em círculos reformistas, não pode ser independentemente verificado.

Mas ex-prisioneiros e grupos de direitos humanos disseram que tal tratamento — uma mistura de intimidação e persuasão conhecida como tortura branca — é bastante disseminada e que pessoas comuns, bem como opositores políticos têm sido submetidas a ela.

"Esse caso é um dos milhares de casos que acontecem no Irã", disse Mohammad Javad Akbarein, analista que esteve preso em 2001. "A maioria dos prisioneiros passa por tortura branca. Mas é preocupante que as pessoas se tornem complacentes quando os prisioneiros não são submetidos à tortura física e esquecem que seus direitos, dignidade e honra são menosprezados".

O 20 de junho foi um sábado tenso, o dia depois que o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, declarou que o resultado da eleição seria considerado válido e advertiu os líderes opositores a encerrar os protestos de rua ou assumirem a responsabilidade pelo derramamento de sangue. "Nós sabíamos que a partir daquele dia todos os que fossem para as ruas pagariam um alto preço por isso", disse Nazy. Ela tinha saído para comprar um livro na rua Enqelab, região central de Teerã, e pretendia participar de uma manifestação programada para as 16h.

ALGEMADA NA RUA
Antes de sair de casa, ela colocou munhequeiras brancas, com a inscrição "mudança", em sua bolsa, além de um cartaz dobrado que ela havia preparado. O branco é a cor dos partidários de Karroubi. À tarde, ela havia acabado de sair do carro em frente à livraria quando um homem de colete branco, camisa azul e tênis brancos dobrou seu braço e a algemou.

Ele empurrou a estudante emandou que andasse alguns metros em frente a ele na movimentada rua. Pouco depois, dois jovens, usando munhequeiras verdes — a cor de outro candidato derrotado, o reformista Mir Hossein Mousavi — a alcançaram. Um deles disse: "Não faça nenhum barulho. Quando você chegar à rua estreita, ajudaremos você a escapar".

Mas, quando chegou à rua que leva à "Polícia de Proteção", os homens a empurraram para dentro dos portões. Eles a haviam enganado. Nazy andou até um grande pátio cheio de policiais de disciplina, vans e jipes. Viu cinco ou seis homens sendo espancados enquanto eram levados ao centro de detenção. Folha de São Paulo

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