Bolívia na rota das armas

Policiais civis e federais no Rio já suspeitam que Puerto Suarez seria a nova porta de entrada de armas

A apreensão de fuzis calibre .30 em São Paulo e Rio de Janeiro, em setembro passado, tem mostrado que o tráfico de armas está utilizando outras rotas para chegar ao Brasil. O armamento pesado, que é capaz de derrubar aviões, foi desviado do exército da Bolívia e torna o país uma alternativa a mais para o crime organizado, além do Paraguai. As autoridades brasileiras calculam que, só este ano, outros 20 artefatos desse tipo tenham entrado pela fronteira, principalmente por Mato Grosso do Sul.

Desde o ano passado, a Bolívia passou a ser um motivo de preocupação para a polícia brasileira, com o avanço do tráfico de cocaína, principalmente com a migração dos grupos colombianos. Agora, com a apreensão de armas pesadas, a atenção aumentou. Além disso, junto com os fuzis foi encontrada droga, o que reforçou a tese de que o crime organizado está alternando seus negócios. Por Edson Luiz

Com pouca fiscalização por causa da extensão, Mato Grosso do Sul sempre foi uma rota utilizada pelo narcotráfico, principalmente na região de Corumbá, onde a entrada e saída de bolivianos e brasileiros é grande, e não há controle deste fluxo. Segundo fontes da Polícia Federal, outros tipos de armas podem estar entrando pela região, por causa da repressão na fronteira do Brasil com o Paraguai. “Por ser considerado uma rota estabelecida, o Paraguai é visado de uma forma maior. Por isso os traficantes, não apenas de armas, mas também de droga, procuram outros caminhos”, afirma um delegado da área de inteligência da PF.

Desde o início do ano as políciais Civil e Federal no Rio já tinham suspeitas de que a nova porta de entrada das armas seria Puerto Suarez, na Bolívia, cidade que faz fronteira com Corumbá (MS). A certeza se deu em julho passado, quando foi preso Antônio Jorge Gonçalves dos Santos, conhecido por Toni. Ele era o responsável pela entrega de armas para morros e favelas fluminenses e o tráfico se dava da Bolívia, inclusive de produtos de origem militar. “Calculamos que, pelo menos uns 20 fuzis do exército, já foram apreendidos nos últimos meses”, afirma a fonte da PF.

O preço das armas na Bolívia não diferencia muito dos valores pagos no Paraguai. Um fuzil AK-47, por exemplo, custa em torno de R$ 50 mil, enquanto pistolas variam entre R$ 1,2 mil a R$ 1,8 mil nos dois países. A diferença, porém, é que muitas armas, principalmente de pequeno porte, são novas, e não usadas como a Polícia Federal identificou em algumas apreensões, com exceção dos fuzis militares. A origem também é a mesma: grande parte sai dos Estados Unidos e chega à fronteira por via aérea. Quando chegam ao Brasil, as armas são distribuídas para Rio e São Paulo.

Segundo levantamentos de organizações não governamentais internacionais, em seis anos — de 2000 a 2006 — os Estados Unidos aumentaram em quase 30% sua produção de armas, a maioria leve, como pistolas e revólveres. O armamento pesado sai de alguns países da Europa e da Ásia. A China, por exemplo, está exportando fuzis Norico, que tem as mesmas características do AK-47, que é de origem russa e um dos mais utilizados no mundo, principalmente em países com guerra civil e conflitos étnicos. Correio Braziliense

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