Helicóptero da PM pode ter sido derrubado por disparo de munição antiaérea
O helicóptero Phenix 3, modelo Esquilo AS-350 B2, do Grupamento Aéreo Marítimo (GAM) da PM, pode ter sido derrubado por um disparo de munição antiaérea. A hipótese foi admitida pelo secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, com a ressalva de que a identificação da arma depende do resultado das análises feitas pelos peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). A aeronave do GAM foi atingida no sábado, quando apoiava uma operação no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, onde facções rivais travavam uma batalha pelo controle dos pontos de venda de drogas.
Durante o enterro dos dois soldados mortos na queda da aeronave, Beltrame disse que a polícia ainda está investigando o que teria atingido e derrubado o helicóptero do GAM:
- Em tese, a arma usada pelos bandidos poderia seria um fuzil 7.62 ou armas de calibre .30 ou .50 - disse o secretário.
De acordo com Beltrame, o uso de um lança-rojão pelos traficantes para derrubar o helicóptero é pouco provável, pois as consequências do emprego da arma teriam sido bem maiores.
A hipótese de os bandidos terem usado uma metralhadora .30 para derrubar o helicóptero do GAM é reforçada pelo aumento das apreensões desse tipo de armamento. Conforme O GLOBO noticiou em agosto do ano passado, somente nos primeiros sete meses de 2008 nove metralhadoras .30 foram recolhidas com traficantes do Rio, informação revelada a partir de estatística da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), da Polícia Civil. Duas estavam com traficantes do Complexo do Alemão, em Ramos. A região é dominada pela mesma facção que invadiu o Morro dos Macacos, no fim de semana.
Entre os modelos de metralhadora .30 (7,92 x 57mm) apreendidos figura a Lehky Kulomet ZB, fabricada na antiga República da Tchecoslováquia, com capacidade de tiro capaz de derrubar até um helicóptero. Armas de guerra de uso restrito a militares teriam sido desviadas de quartéis do exército boliviano. Uma bala disparada por essa arma pode atingir um alvo a 1.500 metros de distância. E com precisão maior do que os tiros de fuzis: uma metralhadora .30 pode disparar mais de 50 tiros automaticamente.
Ontem, a Assinap (associação formada por policiais militares e bombeiros) anunciou uma recompensa de R$10 mil por informações que levem à captura dos traficantes que derrubaram o helicóptero da PM. O anúncio foi feito durante o enterro dos dois policiais mortos no helicóptero. Edney Canazaro de Oliveira e Marcos Stadler Macedo foram sepultados no Jardim da Saudade, Sulacap. Durante o velório, o presidente da Assinap, Miguel Cordeiro, aproveitou para protestar contra as condições em que trabalham os policiais. Ele distribuiu um manifesto pedindo melhores salários e equipamentos de proteção. Além dos dois PMs, até ontem, a guerra já tinha provocado a morte de outras 15 pessoas.
- O policial militar trabalha estressado, se arrisca e é o mais mal pago do país - ele disse.
Emocionada, Rosa Maria Barbosa, tia do soldado Edney, desabafou:
- Um menino novo, que entrou para a polícia almejando uma carreira bonita e que acaba assim por descaso do governo. Existe verba para Olimpíadas, Copa. Agora, para equipar a polícia, dar vida digna aos que estão trabalhando para a segurança do povo, não. Eles dão helicóptero sem ser blindado e mandam o policial dar a cara para morrer. Até quando? A marginalidade está se sobrepondo.
Cerca de mil pessoas, em sua maioria policiais, acompanharam o enterro. Helicópteros da PM e da Polícia Civil sobrevoaram o local jogando pétalas de rosas. Além do secretário Beltrame, o comandante geral da PM, Mario Sergio Duarte, e o comandante do GAM, Eduardo Luiz Brandão estiveram presentes, mas não quiseram dar entrevistas. O capitão Marcelo Vaz, que pilotava o helicóptero abatido pelos bandidos, também esteve no cemitério. Com a mão esquerda enfaixada por causa de queimaduras, ele cumprimentou as famílias dos ex-companheiros e foi embora dizendo que estava "muito transtornado".
Bastante emocionado e também com queimaduras na mão, o cabo Gonçalves, que estava em outro helicóptero e ajudou a socorrer os feridos, relembrou o episódio: - Foi tudo muito rápido. Quando olhei, a aeronave já estava pegando fogo. Fizemos o que foi possível.
O helicóptero abatido havia acabado de socorrer um policial baleado no morro, tinha ido abastecer e estava a caminho de um segundo resgate quando foi atingido. Dos seis tripulantes, dois morreram carbonizados. Edney Canazaro de Oliveira faria 30 anos no próximo dia 15. Estava casado havia cinco meses e não tinha filhos. Ele cresceu na Ilha do Governador, mas morava atualmente em Vila Valqueire. Era soldado, estava há quatro anos na PM e há um ano e meio no GAM.
- Era uma pessoa que sempre batalhou muito, alguém muito querido. Basta olhar em volta - dizia Ludmila Calado, de 62 anos, amiga da família, referindo-se à multidão que se formava na porta da capela. - O sentimento que a gente tem é de revolta.
Na capela ao lado era velado o corpo do soldado Marcos Stadler Macedo. Ele tinha 39 anos, estava há sete na Polícia Militar e há quatro no GAM. Filho único, Marcos perdeu o pai quando era menino, num acidente de carro. Segundo o tio do rapaz, Paulo Stadler, que é supervisor de uma loja de tecidos, o soldado perdeu uma tia, vítima de bala perdida, anos atrás. Marcos tinha uma filha de 2 anos, morava na Taquara e estava fazendo curso para piloto de helicóptero.
Os dois policiais foram sepultados ao som do hino da corporação, executado pela banda da PM. Num cartaz, a letra da Canção do Policial Militar: "Ser policial é sobretudo uma razão de ser, é enfrentar a morte, mostrar-se um forte no que acontecer".
Ao fim do sepultamento, o cabo Daniel da Cruz, colega de Marcos e Edney no GAM, lembrou que eles sempre rezavam juntos antes das operações: - Eram pessoas que botavam a gente para cima. Nosso sentimento não é de vingar a morte deles. Mas tenho uma filha de 6 anos e quero um Rio de paz. Para quem vem de fora não ficar achando que isso aqui é só pornografia e violência. Perguntado se tinha medo, o policial respondeu:
- O medo faz parte da profissão. Se eu não tiver posso morrer. Mas tem que ser controlado. O medo descontrolado faz você morrer também. O Globo
O helicóptero Phenix 3, modelo Esquilo AS-350 B2, do Grupamento Aéreo Marítimo (GAM) da PM, pode ter sido derrubado por um disparo de munição antiaérea. A hipótese foi admitida pelo secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, com a ressalva de que a identificação da arma depende do resultado das análises feitas pelos peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). A aeronave do GAM foi atingida no sábado, quando apoiava uma operação no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, onde facções rivais travavam uma batalha pelo controle dos pontos de venda de drogas.
Durante o enterro dos dois soldados mortos na queda da aeronave, Beltrame disse que a polícia ainda está investigando o que teria atingido e derrubado o helicóptero do GAM:
- Em tese, a arma usada pelos bandidos poderia seria um fuzil 7.62 ou armas de calibre .30 ou .50 - disse o secretário.
De acordo com Beltrame, o uso de um lança-rojão pelos traficantes para derrubar o helicóptero é pouco provável, pois as consequências do emprego da arma teriam sido bem maiores.
A hipótese de os bandidos terem usado uma metralhadora .30 para derrubar o helicóptero do GAM é reforçada pelo aumento das apreensões desse tipo de armamento. Conforme O GLOBO noticiou em agosto do ano passado, somente nos primeiros sete meses de 2008 nove metralhadoras .30 foram recolhidas com traficantes do Rio, informação revelada a partir de estatística da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), da Polícia Civil. Duas estavam com traficantes do Complexo do Alemão, em Ramos. A região é dominada pela mesma facção que invadiu o Morro dos Macacos, no fim de semana.
Entre os modelos de metralhadora .30 (7,92 x 57mm) apreendidos figura a Lehky Kulomet ZB, fabricada na antiga República da Tchecoslováquia, com capacidade de tiro capaz de derrubar até um helicóptero. Armas de guerra de uso restrito a militares teriam sido desviadas de quartéis do exército boliviano. Uma bala disparada por essa arma pode atingir um alvo a 1.500 metros de distância. E com precisão maior do que os tiros de fuzis: uma metralhadora .30 pode disparar mais de 50 tiros automaticamente.
Ontem, a Assinap (associação formada por policiais militares e bombeiros) anunciou uma recompensa de R$10 mil por informações que levem à captura dos traficantes que derrubaram o helicóptero da PM. O anúncio foi feito durante o enterro dos dois policiais mortos no helicóptero. Edney Canazaro de Oliveira e Marcos Stadler Macedo foram sepultados no Jardim da Saudade, Sulacap. Durante o velório, o presidente da Assinap, Miguel Cordeiro, aproveitou para protestar contra as condições em que trabalham os policiais. Ele distribuiu um manifesto pedindo melhores salários e equipamentos de proteção. Além dos dois PMs, até ontem, a guerra já tinha provocado a morte de outras 15 pessoas.
- O policial militar trabalha estressado, se arrisca e é o mais mal pago do país - ele disse.
Emocionada, Rosa Maria Barbosa, tia do soldado Edney, desabafou:
- Um menino novo, que entrou para a polícia almejando uma carreira bonita e que acaba assim por descaso do governo. Existe verba para Olimpíadas, Copa. Agora, para equipar a polícia, dar vida digna aos que estão trabalhando para a segurança do povo, não. Eles dão helicóptero sem ser blindado e mandam o policial dar a cara para morrer. Até quando? A marginalidade está se sobrepondo.
Cerca de mil pessoas, em sua maioria policiais, acompanharam o enterro. Helicópteros da PM e da Polícia Civil sobrevoaram o local jogando pétalas de rosas. Além do secretário Beltrame, o comandante geral da PM, Mario Sergio Duarte, e o comandante do GAM, Eduardo Luiz Brandão estiveram presentes, mas não quiseram dar entrevistas. O capitão Marcelo Vaz, que pilotava o helicóptero abatido pelos bandidos, também esteve no cemitério. Com a mão esquerda enfaixada por causa de queimaduras, ele cumprimentou as famílias dos ex-companheiros e foi embora dizendo que estava "muito transtornado".
Bastante emocionado e também com queimaduras na mão, o cabo Gonçalves, que estava em outro helicóptero e ajudou a socorrer os feridos, relembrou o episódio: - Foi tudo muito rápido. Quando olhei, a aeronave já estava pegando fogo. Fizemos o que foi possível.
O helicóptero abatido havia acabado de socorrer um policial baleado no morro, tinha ido abastecer e estava a caminho de um segundo resgate quando foi atingido. Dos seis tripulantes, dois morreram carbonizados. Edney Canazaro de Oliveira faria 30 anos no próximo dia 15. Estava casado havia cinco meses e não tinha filhos. Ele cresceu na Ilha do Governador, mas morava atualmente em Vila Valqueire. Era soldado, estava há quatro anos na PM e há um ano e meio no GAM.
- Era uma pessoa que sempre batalhou muito, alguém muito querido. Basta olhar em volta - dizia Ludmila Calado, de 62 anos, amiga da família, referindo-se à multidão que se formava na porta da capela. - O sentimento que a gente tem é de revolta.
Na capela ao lado era velado o corpo do soldado Marcos Stadler Macedo. Ele tinha 39 anos, estava há sete na Polícia Militar e há quatro no GAM. Filho único, Marcos perdeu o pai quando era menino, num acidente de carro. Segundo o tio do rapaz, Paulo Stadler, que é supervisor de uma loja de tecidos, o soldado perdeu uma tia, vítima de bala perdida, anos atrás. Marcos tinha uma filha de 2 anos, morava na Taquara e estava fazendo curso para piloto de helicóptero.
Os dois policiais foram sepultados ao som do hino da corporação, executado pela banda da PM. Num cartaz, a letra da Canção do Policial Militar: "Ser policial é sobretudo uma razão de ser, é enfrentar a morte, mostrar-se um forte no que acontecer".
Ao fim do sepultamento, o cabo Daniel da Cruz, colega de Marcos e Edney no GAM, lembrou que eles sempre rezavam juntos antes das operações: - Eram pessoas que botavam a gente para cima. Nosso sentimento não é de vingar a morte deles. Mas tenho uma filha de 6 anos e quero um Rio de paz. Para quem vem de fora não ficar achando que isso aqui é só pornografia e violência. Perguntado se tinha medo, o policial respondeu:
- O medo faz parte da profissão. Se eu não tiver posso morrer. Mas tem que ser controlado. O medo descontrolado faz você morrer também. O Globo
Um comentário:
Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fizer sua visita ao
Brasil, peça para o presidente Lula perguntar a ele como são tratados os terroristas, traficantes e drogados naquele país. Poderiamos comprar a tecnologia deles. Afinal o que impede que tenhamos leis duríssimas contra esse tipo de crime? Será que nossos representantes no congresso têm medo de aprovar uma lei mais severa porque temem, eles próprios, a possibilidade de serem enquadrados por ela? Enquanto isso ficamos com a solução proposta pelo Cabral: “Vamos comprar um helicóptero blindado”. Isso é patético…
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