Para Ildo Sauer, ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras e um dos diretores do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), a falha está na "gestão e coordenação" do Ministério de Minas e Energia, comandado por Edison Lobão, antecedido por Silas Rondeau e Dilma Rousseff, hoje ministra chefe da Casa Civil.
Sauer acredita que a "gestão do sistema de energia precisa ser revista". E defende que a ministra Dilma deveria ter feito isso em 2003 e 2004 para sanar falhas deixadas pelo governo FHC em Energia. Por Marcela Rocha
- O problema está na coordenação muito tênue que existe em Brasília, que já existia no governo anterior, mas que não foi reformada o suficiente neste governo. A reforma de 2003-2004 era a hora de revisar todos esse problemas, como o do abuso tarifário, que é leniência da regulação com o poder do governo, a falta de confiabilidade e o benefício dado à especulação.
Segundo o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o problema foi possivelmente causado por condições meteorológicas adversas em três linhas: duas delas vão do Paraná a Itaberá, no sul de São Paulo, e outra liga Itaberá a Tijuco Preto, no sul de Minas Gerais.
Segundo o ex-diretor da Petrobras, a explicação do Ministério para o ocorrido "tem todo o cheiro de genérica porque é impossível que, até agora, não tenham identificado a origem do problema". "A não ser que haja falta de eficácia na gestão para fazê-lo", provoca.
Na noite desta terça-feira, 10, por volta das 22h30, 18 unidades geradoras da usina de Itaipu não conseguiam passar eletricidade para a rede distribuidora. Segundo o Ministério, o problema atingiu pelo menos 18 Estados: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Acre, Rondônia, Bahia, Sergipe, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Terra Magazine - O Ministério (de Minas e Energia) afirma que a principal hipótese (para o apagão desta terça) seja uma "adversidade climática". Como o senhor avalia essa "adversidade"?
Ildo Sauer - Explica, talvez, mas não justifica. Eventos climáticos não podem desencadear uma sequência dessas consequências. O sistema tem que ter confiabilidade. Os investimentos são feitos para ter um ou dois componentes críticos, não poderiam desencadear uma rede de acontecimentos nessa proporção. No máximo, um evento limitado a uma região. Muito menos justificativa por se tratar de um evento climático que demorou tanto a ser detectado em sendo algo catastrófico.
Onde pode estar a origem deste problema?
A origem dessas panes pode estar em: um evento originário intrínseco ao sistema como um curto circuito, por exemplo, causado por um desligamento não programado de algum elemento chave. Pode ter algo de força maior, como um terremoto, por exemplo, ou um vendaval de altíssima proporção. Pode ter havido vandalismo, terrorismo, ou até mesmo ataque por tecnologia da informação. Aparentemente todos esses eventos estão descartados, não houve terremoto, nem tornado, nem vendaval. Falar que foi um evento climático, não justifica nada, é uma explicação furada, porque os componentes do sistema são feitos para aguentar raios, tempestades. Agora, no Brasil, não tem terremoto ou um vendaval de proporções enormes. O que interessa é que, um componente caindo, o sistema não poderia cair. Existe o critério de confiabilidade e o sistema que tem uma série de elementos, perdendo um, não podia cair. E se cair, a queda tem que ficar circunscrita a uma região delimitada. Isso é definido pela intervenção do operador. Então houve uma sequência de problemas.
Qual?
A origem não está explicada e a atuação do operador - que seria de isolar o evento e não foi feito - precisam ser explicadas.
O sistema interligado precisaria ser revisto?
O sistema interligado não, mas a gestão do sistema energético brasileiro. O que está sendo feito aqui me cheira a problema de gestão. Temos hoje uma multiplicidade de organizações envolvidas. No âmbito federal temos a Comitê de Monitoramento do Sistema Energético (CMSE), comandada pelo ministro Lobão, que não detectou que havia problemas. Temos também o Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Anel), mas que não opera nas usinas... Ou seja, citei um monte de agentes que são pagos para operar e cuidar e que não estão fazendo isto e fica mais grave porque 12 horas depois do evento ainda não conseguem explicar e vêm com uma evasiva dizendo que foram as condições climáticas.
O que deveria ser feito?
Eles tinham que determinar o elemento que falhou, se foi falha humana, ou uma catástrofe, ou um problema de manutenção, ou um acidente. A falta de explicação é mais um problema de gestão.
O senhor acredita que faltam investimentos nesse setor?
Isto é difícil de dizer, porque tem havido muita propaganda, pelo menos, de linhas de transmissão, de geração. Neste caso, está me parecendo mais um problema de manutenção do que de novas instalações. Naquela hora ainda mais, porque era 23h, e hoje não acho que haja sobrecarga no sistema de transmissão, nem nos momentos de carga máxima, nem de geração. Este foi um problema de gestão e manutenção que está incluída na gestão, tais como a supervisão, monitoramento, estado de prontidão adequado a operabilidade do sistema. Há, sim, um problema de gestão e coordenação, que é uma responsabilidade mais alta, lá em Brasília. Quem reformou o sistema em 2003 e 2004 (Dilma Rousseff) não revisou todos os critérios, mas apenas um.
Qual?
O de planejar a expansão. Isto está sendo feito, mas com falhas também, porque só 85% do mercado tem expansão garantida por contrato de longo prazo. Os outros 25% estão na obscuridade, porque o governo não está cuidando do mercado livre. Permitiu mercado especulativo, o que causou prejuízos enormes às geradoras e facilitou a vida de alguns consumidores livres e umas dúzias de intermediários comercializadores, que ganharam muito dinheiro com isto. As tarifas brasileiras estão entre as mais caras do mundo, como já foi comprovado na CPI das tarifas. As tarifas são as mais caras também por problema de gestão, regulação da Anel e por problemas teoricamente de investimentos elevados para garantir a confiabilidade, que não está sendo entregue.
O que devemos esperar do Ministério?
Primeiro, precisa explicar o que aconteceu. Segundo, que providências vai tomar para garantir que esses efeitos não se repitam. Terceiro, falar a verdade, porque aparentemente essa evasiva que deram não é suficiente. Tem todo o cheiro de uma explicação genérica porque é impossível que, até agora, não tenham identificado a origem do problema. A não ser que haja falta de eficácia na gestão para fazê-lo.
É possível que aconteçam mais panes como esta?
Surpreendentemente estamos de volta à era de incertezas. Surpreendente porque, pelos enormes investimentos e pela propaganda que se faz deles, eu achei que isso já tivesse sido superado. Mas o evento de ontem não nos deixa enganar, e não adianta vir com evasivas, tem que vir com explicações eficazes. Esse é um problema de governo, não é só de Itaipu, só da linha de transmissão, como se tende a fazer. O problema está na coordenação muito tênue que existe em Brasília, que já existia no governo anterior, mas que não foi reformada o suficiente neste governo. A reforma de 2003-2004 era a hora de revisar todos esse problemas, como o do abuso tarifário, que é leniência da regulação com o poder do governo, a falta de confiabilidade e o benefício dado à especulação.
Em 2001, tivemos um racionamento. Em 1999, tivemos outro grande apagão. São eventos que podem ser comparados?
Em 2001 foi um racionamento chamado de apagão. O apagão de abril de 1999 foi o mais grave dentre todos os outros menores que tivemos no Brasil. Este foi o apagão da mentira do raio. É um raio que não houve, ou um raio de pequena dimensão. Da mentira, porque um raio não pode causar isto. Em 1984, 1985, 1992, 1996, 1997, também tivemos apagões, mas o mais grave foi entre março e abril de 1999. Dizia-se que tinha sido um problema em Bauru, segundo o ministro, a Anel e CMSE. Este era o trio Pinóquio, que não falou a verdade para o povo.
Esperamos que o senhor não apelide mais ninguém assim...
Por isto, talvez que eles estejam calados ou estejam dizendo justificativas evasivas... Terra Magazine
O apagão do oráculo (2)
“Nesses últimos sete anos o que nós fizemos de linha de transmissão equivale a 30% de tudo que já tinha sido feito em 123 anos neste país”.
Lula, depois de achar o interruptor, agora tateando explicações para o maior apagão dos últimos 123 anos, que pela primeira vez em sete anos deixou no escuro 60% deste país – Por Augusto Nunes
Clima é justificativa 'furada' para apagão, diz Ildo Sauer
"Falar que foi um evento climático, não justifica nada, é uma explicação furada, porque os componentes do sistema são feitos para aguentar".
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2 comentários:
do Reinaldo Azevedo: Não há dúvida de que…
… o apagão de Lula dá de 400 a zero no apagão de FHC.
o pessoal da meteorologia já DESMENTIU taxativamente que o apagão tenha acorrido por causas metereológicas
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