Educação, saúde e segurança pioram a olhos vistos. Melhor seria termos nascido com um só olho, para vermos as coisas menos tristes.
Há muitos anos lemos e ouvimos que quase tudo vai bem no Brasil, em especial os índices da economia. Quase nada há a consertar. Pior, o povo acredita, e não apenas o inculto. Para mostrar que isso não condiz com a realidade, elencaremos o que o governo considera bom. E nós, um desastre sem fim, que nos levará a enormes problemas futuros.
A dívida interna do governo, segundo se sabe, era de 150 bilhões de reais em 1994. O primeiro duplo governo a entregou com quase 900 bilhões em 2002. Hoje, incluindo a que está em poder do público e do Banco Central, beira 1,9 trilhão. Só com a dívida, o governo gasta cerca de 140 bilhões de reais anuais. Sabe-se lá com quanto o segundo duplo – ou quíntuplo governo – a entregará em 2010 ou 2022. Por Samir Keedi
A taxa de juros é indecente – a maior do mundo - mesmo com a crise. Em muitos países está em zero ou quase. Com a atual taxa, o investimento no Brasil é anão: em média, de 17% ao ano entre 1995 e 2008. Sem investimento não pode haver crescimento. Com essa taxa, a oferta de crédito nunca passou de 35%. Hoje está em 45%. No mundo desenvolvido, é de cerca de 120%.
A reserva de 220 bilhões de dólares é suína (nada contra os bichinhos). Para comprá-la, é preciso vender títulos a juros altíssimos. E aí se aplica no exterior a juros minúsculos, o que leva o Tesouro a altos prejuízos. E ainda é idolatrada.
O saldo da balança comercial tem sido muito alto ao longo dos anos. Já foi até mais da metade do montante da importação – inadequado, visto que o País precisa importar máquinas, equipamentos, e se modernizar. Registre-se que, em 2009, os produtos primários reassumiram a liderança das exportações, depois de mais de três décadas. Mama mia!
Juntando a taxa de juros alta, com superávit inadequado, temos a falsa valorização do Real. Uma moeda tem que se valorizar por estar forte. Entre nós, ocorre pelo excesso de oferta do dólar. Todos vêm aqui aplicar seu dinheiro e ganhar muito. E tem gente que acha bom. Pior, confunde aplicação com investimento. A moeda é uma mercadoria. Tem preço. É apenas pelo excesso de oferta do dólar que o Real tem valorizado tanto. É a moeda que mais valorizou no mundo. Mas a ignorância econômica nos leva a concluir que agora nossa moeda é forte e internacional.
A bolsa-esmola ajuda a manter fora do emprego formal quase 50 milhões de almas. E crescendo sem parar, a um custo extraordinário. Os reajustes crescem bem mais do que para os aposentados, estes transformados em cidadãos de segunda classe. O caminho decente é a criação de empregos, para que se ganhe e coma por si próprio.
O funcionalismo público cresce a passos largos, e vamos nos tornando em uma nação oficial . E os salários sobem bem mais que a inflação. Mais cidadãos de primeira e de segunda classes. Em pouco tempo, uma década, ou pouco mais, o País poderá não ter dinheiro para os juros, bolsa-esmola, funcionalismo...
Pela "falta de dinheiro", mesmo que em tese sejamos o país mais rico do planeta – nossa carga tributária nos permitiria isso – não haverá dinheiro para nada. Talvez nem para a corrupção e as famosas riquezas milagrosas. Aliás, segundo o FMI, a corrupção custa à Nação 12 bilhões de dólares ao ano.
Essa carga tributária cresce indefinidamente, reduzindo o poder aquisitivo a galope. Para que o consumo cresça – já que a renda é pequena – usa-se o subterfúgio da redução temporária de impostos. Só para alguns setores, criando mais cidadãos de primeira e segunda classe. Para crescer de fato são necessários política econômica e tributos em nível descente.
A educação, a saúde e a segurança – para ficar em três itens – pioram a olhos vistos. Melhor seria termos todos nascido com apenas um olho, para vermos as coisas menos tristes.
O país tem, segundo o IBGE, só 32,7 milhões de carteiras assinadas. A PEA (população economicamente ativa) é de 90 milhões de pessoas. Os desempregados, nas seis principais regiões metropolitanas, são de "apenas" dois milhões de pessoas. Pelos números oficiais temos, então, 55 milhões de empreendedores. Será que há tantos? Temos apenas cerca de seis milhões de empresas no país. Assim, nos parece que os desempregados e subempregados são bem mais.
Nosso sistema logístico, com estradas, ferrovias, hidrovias, portos, como sempre escrevemos, é catastrófico. Nossa matriz de transporte é a pior do mundo. Será que alguém, em sã consciência, pode dizer que nossos fundamentos econômicos são bons? Ou razoáveis? E nem queremos sair da área econômica para comentar sobre a violência, ou a qualidade dos políticos, dos serviços oferecidos pelo governo. E temos, meu Deus, "o melhor governo da história deste País".
Como será viver aqui em uma década, se nada mudar radicalmente para melhor? Ou se simplesmente permanecer como está? Opinião do Diário do Comércio
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor e autor de diversos livros em comércio exterior. Samir@aduaneiras.com.br
Há muitos anos lemos e ouvimos que quase tudo vai bem no Brasil, em especial os índices da economia. Quase nada há a consertar. Pior, o povo acredita, e não apenas o inculto. Para mostrar que isso não condiz com a realidade, elencaremos o que o governo considera bom. E nós, um desastre sem fim, que nos levará a enormes problemas futuros.
A dívida interna do governo, segundo se sabe, era de 150 bilhões de reais em 1994. O primeiro duplo governo a entregou com quase 900 bilhões em 2002. Hoje, incluindo a que está em poder do público e do Banco Central, beira 1,9 trilhão. Só com a dívida, o governo gasta cerca de 140 bilhões de reais anuais. Sabe-se lá com quanto o segundo duplo – ou quíntuplo governo – a entregará em 2010 ou 2022. Por Samir Keedi
A taxa de juros é indecente – a maior do mundo - mesmo com a crise. Em muitos países está em zero ou quase. Com a atual taxa, o investimento no Brasil é anão: em média, de 17% ao ano entre 1995 e 2008. Sem investimento não pode haver crescimento. Com essa taxa, a oferta de crédito nunca passou de 35%. Hoje está em 45%. No mundo desenvolvido, é de cerca de 120%.
A reserva de 220 bilhões de dólares é suína (nada contra os bichinhos). Para comprá-la, é preciso vender títulos a juros altíssimos. E aí se aplica no exterior a juros minúsculos, o que leva o Tesouro a altos prejuízos. E ainda é idolatrada.
O saldo da balança comercial tem sido muito alto ao longo dos anos. Já foi até mais da metade do montante da importação – inadequado, visto que o País precisa importar máquinas, equipamentos, e se modernizar. Registre-se que, em 2009, os produtos primários reassumiram a liderança das exportações, depois de mais de três décadas. Mama mia!
Juntando a taxa de juros alta, com superávit inadequado, temos a falsa valorização do Real. Uma moeda tem que se valorizar por estar forte. Entre nós, ocorre pelo excesso de oferta do dólar. Todos vêm aqui aplicar seu dinheiro e ganhar muito. E tem gente que acha bom. Pior, confunde aplicação com investimento. A moeda é uma mercadoria. Tem preço. É apenas pelo excesso de oferta do dólar que o Real tem valorizado tanto. É a moeda que mais valorizou no mundo. Mas a ignorância econômica nos leva a concluir que agora nossa moeda é forte e internacional.
A bolsa-esmola ajuda a manter fora do emprego formal quase 50 milhões de almas. E crescendo sem parar, a um custo extraordinário. Os reajustes crescem bem mais do que para os aposentados, estes transformados em cidadãos de segunda classe. O caminho decente é a criação de empregos, para que se ganhe e coma por si próprio.
O funcionalismo público cresce a passos largos, e vamos nos tornando em uma nação oficial . E os salários sobem bem mais que a inflação. Mais cidadãos de primeira e de segunda classes. Em pouco tempo, uma década, ou pouco mais, o País poderá não ter dinheiro para os juros, bolsa-esmola, funcionalismo...
Pela "falta de dinheiro", mesmo que em tese sejamos o país mais rico do planeta – nossa carga tributária nos permitiria isso – não haverá dinheiro para nada. Talvez nem para a corrupção e as famosas riquezas milagrosas. Aliás, segundo o FMI, a corrupção custa à Nação 12 bilhões de dólares ao ano.
Essa carga tributária cresce indefinidamente, reduzindo o poder aquisitivo a galope. Para que o consumo cresça – já que a renda é pequena – usa-se o subterfúgio da redução temporária de impostos. Só para alguns setores, criando mais cidadãos de primeira e segunda classe. Para crescer de fato são necessários política econômica e tributos em nível descente.
A educação, a saúde e a segurança – para ficar em três itens – pioram a olhos vistos. Melhor seria termos todos nascido com apenas um olho, para vermos as coisas menos tristes.
O país tem, segundo o IBGE, só 32,7 milhões de carteiras assinadas. A PEA (população economicamente ativa) é de 90 milhões de pessoas. Os desempregados, nas seis principais regiões metropolitanas, são de "apenas" dois milhões de pessoas. Pelos números oficiais temos, então, 55 milhões de empreendedores. Será que há tantos? Temos apenas cerca de seis milhões de empresas no país. Assim, nos parece que os desempregados e subempregados são bem mais.
Nosso sistema logístico, com estradas, ferrovias, hidrovias, portos, como sempre escrevemos, é catastrófico. Nossa matriz de transporte é a pior do mundo. Será que alguém, em sã consciência, pode dizer que nossos fundamentos econômicos são bons? Ou razoáveis? E nem queremos sair da área econômica para comentar sobre a violência, ou a qualidade dos políticos, dos serviços oferecidos pelo governo. E temos, meu Deus, "o melhor governo da história deste País".
Como será viver aqui em uma década, se nada mudar radicalmente para melhor? Ou se simplesmente permanecer como está? Opinião do Diário do Comércio
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras, consultor e autor de diversos livros em comércio exterior. Samir@aduaneiras.com.br
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