Dado o interesse renovado em alternativas ao capitalismo, talvez seja oportuno lembrar a última vez que o socialismo foi tentado com entusiasmo real.
Vinte anos atrás, o Muro de Berlim caiu e com ele o regime comunista na Europa Central. Dois anos depois, a União Soviética deixou de existir e a transição da ditadura comunista para a democracia de livre mercado começou em grande parte da antiga república socialista. A democracia e o capitalismo - concluiu Francis Fukuyama em O Fim da História - ganharam. O comunismo, usando (com um sentido apropriado da ironia) as palavras de Leon Trotsky, acabou na "lata de lixo da história".
Apesar de seu fracasso monumental em trazer a paz social e a abundância material, o socialismo está desfrutando de uma espécie de renascimento. Por Marian L. Tupy
Da Venezuela à Bolívia, até a África do Sul, os ministros do governo defendem as supostas virtudes do socialismo. Mesmo no Ocidente, alguns estão adotando políticas de intervenção estatal na economia em níveis não vistos em décadas. Dado o interesse renovado nas alternativas ao capitalismo, talvez seja oportuno lembrar a última vez que o socialismo foi tentado com entusiasmo real.
Poucos recordam do regime comunista na Europa Oriental na década de 1950, no auge de sua glória. A névoa do tempo encobre as memórias dolorosas dos pelotões de fuzilamento e dos campos de trabalho forçado. No entanto, tenho idade suficiente para lembrar do comunismo na sua última etapa, quando já não tinha mais a confiança necessária para puxar o gatilho, mas ainda teve forças para fechar a porta de uma cela de prisão. Pois, na década de 1980, nem mesmo os comunistas acreditavam no comunismo. O que antes era a maior ameaça da humanidade se converteu numa piada patética, exceto para as pessoas dos países excomunistas, que não eram felizes e nem riam.
A escassez – como recorda o filme de 1984 do norteamericano de Robin Williams “Moscow on the Hudson" - era uma realidade cotidiana no bloco soviético.
Quando eu era criança lembro-me de ser levada pela minha tia (comunista linha dura) a uma loja onde o único sinal de vida era uma solitária mosca gorda zumbindo em cima de uma salsicha cinza, o único indicador de que a loja era, de fato, um açougue. Nascida após a revolução comunista na Tchecoslováquia, em 1948, ela não conhecia nada de melhor. Como Williams, o personagem de Vladimir Ivanoff, via as filas intermináveis para comprar um ou dois rolos de papel higiênico de baixa qualidade como algo perfeitamente normal. Paradoxalmente, foi sua viagem ao ‘paraíso dos trabalhadores’ (uma espécie de recompensa das classes para os verdadeiros crentes), que a fez duvidar do comunismo. "Rússia", disse ela ao voltar, “é um país muito pobre".
Naturalmente, as lojas podem ser abastecidas com mercadorias, as estradas podem ser reconstruídas e as casas renovadas. Mas as cicatrizes psicológicas do comunismo levam muito mais tempo para se curar. Foi o que escreveu um viajante a Rússia em 1982: "Sim é difícil descrever o deserto econômico da Rússia para alguém que não tenha estado lá, mas é ainda mais difícil descrever o que o regime totalitário fez para o espírito humano. Não é só a monotonia cinzenta que você vê em toda parte; ou a aspereza e a impertinência que se encontra com tanta freqüência. É que você quase nunca vê as pessoas sorrirem, ou simplesmente se divertirem. As pessoas parecem andar meio curvadas e seus olhos sempre estão repelindo o desconhecido. Há um enorme sentimento de repressão e depressão".
Como o filósofo austríaco Friedrich von Hayek explicou em seu clássico de 1944, ‘O Caminho da Servidão’: o planejamento central leva à ineficiência maciça e às longas filas fora das lojas vazias. Um estado de crise econômica permanente leva, na seqüência, a chamar por um planejamento ainda maior. Mas o planejamento econômico é inimigo da liberdade. Como não pode haver acordo sobre um plano único para uma sociedade livre, a centralização da tomada de decisão econômica tem de ser acompanhada pela centralização do poder político, nas mãos de uma pequena elite. Quando, no final, o fracasso do planejamento central torna-se inegável, os regimes totalitários tendem a silenciar os dissidentes, por vezes, através de assassinatos em massa.
Cerca de 100 milhões de pessoas morreram em busca de uma utopia comunista. Eliminar o lucro e a propriedade privada foi a promessa feita para acabar com os males sociais, como desigualdade, racismo e sexismo. Mas quanto mais uma sociedade se aproxima do marxismo, mais sangrento é o resultado. Sobrevivência em uma sociedade comunista exige mentiras, roubo e traição. Assim, como escreveu o ex-presidente tcheco Vaclav Havel: a maioria das pessoas no antigo bloco soviético cresceu sem uma bússola moral. Estes sobreviventes moralmente comprometidos pelo comunismo dificilmente irão refletir sobre o passado, e chegar a um acordo com ele.
Ao contrário dos alemães após a Segunda Guerra Mundial, as pessoas dos países ex-comunistas nunca foram obrigadas a enfrentar seus demônios. Como conseqüência, o regime comunista não adquiriu o opróbrio moral do nazismo. Enquanto continuar sendo este o caso, a economia socialista vai continuar desfrutando de uma aura de plausibilidade.
Fonte: American.com - Imagen por Darren Bergman / Bergman Grupo - Tradução de Arthur para o MOVCC
Marian Tupy é analista política do Centro do Instituto Cato for Global Liberty and Prosperity e autora do estudo "A ascensão de partidos populistas na Europa Central: Governo grande, corrupção e da ameaça ao Liberalismo" e do livro "Botsuana e Zimbábue: A história de duas cidades".
Vinte anos atrás, o Muro de Berlim caiu e com ele o regime comunista na Europa Central. Dois anos depois, a União Soviética deixou de existir e a transição da ditadura comunista para a democracia de livre mercado começou em grande parte da antiga república socialista. A democracia e o capitalismo - concluiu Francis Fukuyama em O Fim da História - ganharam. O comunismo, usando (com um sentido apropriado da ironia) as palavras de Leon Trotsky, acabou na "lata de lixo da história".
Apesar de seu fracasso monumental em trazer a paz social e a abundância material, o socialismo está desfrutando de uma espécie de renascimento. Por Marian L. Tupy
Da Venezuela à Bolívia, até a África do Sul, os ministros do governo defendem as supostas virtudes do socialismo. Mesmo no Ocidente, alguns estão adotando políticas de intervenção estatal na economia em níveis não vistos em décadas. Dado o interesse renovado nas alternativas ao capitalismo, talvez seja oportuno lembrar a última vez que o socialismo foi tentado com entusiasmo real.
Poucos recordam do regime comunista na Europa Oriental na década de 1950, no auge de sua glória. A névoa do tempo encobre as memórias dolorosas dos pelotões de fuzilamento e dos campos de trabalho forçado. No entanto, tenho idade suficiente para lembrar do comunismo na sua última etapa, quando já não tinha mais a confiança necessária para puxar o gatilho, mas ainda teve forças para fechar a porta de uma cela de prisão. Pois, na década de 1980, nem mesmo os comunistas acreditavam no comunismo. O que antes era a maior ameaça da humanidade se converteu numa piada patética, exceto para as pessoas dos países excomunistas, que não eram felizes e nem riam.
A escassez – como recorda o filme de 1984 do norteamericano de Robin Williams “Moscow on the Hudson" - era uma realidade cotidiana no bloco soviético.
Quando eu era criança lembro-me de ser levada pela minha tia (comunista linha dura) a uma loja onde o único sinal de vida era uma solitária mosca gorda zumbindo em cima de uma salsicha cinza, o único indicador de que a loja era, de fato, um açougue. Nascida após a revolução comunista na Tchecoslováquia, em 1948, ela não conhecia nada de melhor. Como Williams, o personagem de Vladimir Ivanoff, via as filas intermináveis para comprar um ou dois rolos de papel higiênico de baixa qualidade como algo perfeitamente normal. Paradoxalmente, foi sua viagem ao ‘paraíso dos trabalhadores’ (uma espécie de recompensa das classes para os verdadeiros crentes), que a fez duvidar do comunismo. "Rússia", disse ela ao voltar, “é um país muito pobre".
Naturalmente, as lojas podem ser abastecidas com mercadorias, as estradas podem ser reconstruídas e as casas renovadas. Mas as cicatrizes psicológicas do comunismo levam muito mais tempo para se curar. Foi o que escreveu um viajante a Rússia em 1982: "Sim é difícil descrever o deserto econômico da Rússia para alguém que não tenha estado lá, mas é ainda mais difícil descrever o que o regime totalitário fez para o espírito humano. Não é só a monotonia cinzenta que você vê em toda parte; ou a aspereza e a impertinência que se encontra com tanta freqüência. É que você quase nunca vê as pessoas sorrirem, ou simplesmente se divertirem. As pessoas parecem andar meio curvadas e seus olhos sempre estão repelindo o desconhecido. Há um enorme sentimento de repressão e depressão".
Como o filósofo austríaco Friedrich von Hayek explicou em seu clássico de 1944, ‘O Caminho da Servidão’: o planejamento central leva à ineficiência maciça e às longas filas fora das lojas vazias. Um estado de crise econômica permanente leva, na seqüência, a chamar por um planejamento ainda maior. Mas o planejamento econômico é inimigo da liberdade. Como não pode haver acordo sobre um plano único para uma sociedade livre, a centralização da tomada de decisão econômica tem de ser acompanhada pela centralização do poder político, nas mãos de uma pequena elite. Quando, no final, o fracasso do planejamento central torna-se inegável, os regimes totalitários tendem a silenciar os dissidentes, por vezes, através de assassinatos em massa.
Cerca de 100 milhões de pessoas morreram em busca de uma utopia comunista. Eliminar o lucro e a propriedade privada foi a promessa feita para acabar com os males sociais, como desigualdade, racismo e sexismo. Mas quanto mais uma sociedade se aproxima do marxismo, mais sangrento é o resultado. Sobrevivência em uma sociedade comunista exige mentiras, roubo e traição. Assim, como escreveu o ex-presidente tcheco Vaclav Havel: a maioria das pessoas no antigo bloco soviético cresceu sem uma bússola moral. Estes sobreviventes moralmente comprometidos pelo comunismo dificilmente irão refletir sobre o passado, e chegar a um acordo com ele.
Ao contrário dos alemães após a Segunda Guerra Mundial, as pessoas dos países ex-comunistas nunca foram obrigadas a enfrentar seus demônios. Como conseqüência, o regime comunista não adquiriu o opróbrio moral do nazismo. Enquanto continuar sendo este o caso, a economia socialista vai continuar desfrutando de uma aura de plausibilidade.
Fonte: American.com - Imagen por Darren Bergman / Bergman Grupo - Tradução de Arthur para o MOVCC
Marian Tupy é analista política do Centro do Instituto Cato for Global Liberty and Prosperity e autora do estudo "A ascensão de partidos populistas na Europa Central: Governo grande, corrupção e da ameaça ao Liberalismo" e do livro "Botsuana e Zimbábue: A história de duas cidades".
Nenhum comentário:
Postar um comentário