
Puerilidades pontuam a política do governo Lula em relação ao país que mais conta no mundo. Há poucas semanas, Brasília cometeu a impropriedade de divulgar uma mensagem reservada de Obama a Lula, que entrou no fax do Planalto, não por acaso, na véspera da visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Vista da perspectiva de Washington, a carta era uma deferência ao Brasil. Para piorar as coisas, o assessor Garcia se permitiu dizer que a conduta do presidente americano deixava um "sabor de decepção". Ironicamente, quando o titular da Casa Branca se chamava George W. Bush, a atitude brasileira diante dos EUA era muito mais amena. O "cara", como diria o seu sucessor, se dava melhor com o texano ronceiro. Lula, como se sabe, tem horror a líderes cerebrais e uma compulsão para se mostrar superior a eles. Essa circunstância dá um sabor de provocação à diplomacia lulista no que diga respeito aos americanos.
Não bastasse a megalomania que a orienta, o presidente parece convencido de que a projeção do País no mundo será tanto maior quanto mais a política externa brasileira se caracterizar pelo contencioso com os EUA, para além das divergências normais no relacionamento bilateral. Essa tolice é insuflada por um antiamericanismo reminiscente dos anos Geisel, sob a ditadura militar. Confundindo diplomacia assertiva com a busca de pretextos para criar marola, o Itamaraty só muito raramente se esforça para minimizar ostensivamente os atritos com Washington. Enquanto isso, enfatizando a política de diálogo de Obama, o seu enviado para a América Latina investiu na distensão. "Apenas temos diferentes avaliações sobre alguns tipos de assuntos", disse Valenzuela a jornalistas brasileiros antes de embarcar. O primeiro desses assuntos é a política nuclear do Irã.
Mais do que a própria acolhida a Ahmadinejad, o que calou nos EUA foi o endosso de Lula ao inquietante projeto iraniano. Teerã, declarou, "tem o direito de desenvolver um programa nuclear com fins pacíficos" - isso depois de tudo que o país fez para ocultar dos inspetores internacionais as suas atividades no setor, das sanções que lhe foram impostas pelo Conselho de Segurança da ONU e da sua recusa de enviar urânio ao exterior de onde o receberia de volta enriquecido o suficiente apenas para aplicações civis. Lula imagina que o Brasil poderia mediar entre o Irã e os EUA. É a mesma soberba que o leva a falar em promover a paz entre israelenses e palestinos, esquecido de que nenhuma iniciativa do Itamaraty de resolver desavenças mesmo entre os vizinhos deu algum resultado - nem entre a Argentina e o Uruguai, na questão das papeleiras, nem entre a Venezuela e a Colômbia, por causa do acordo militar colombiano-americano.
O Brasil, subordinando-se indiretamente a Hugo Chávez, respalda a Unasul, que não passa de uma pífia tentativa de criar um foro regional sem a presença dos EUA. No caso da crise hondurenha, o realismo de Washington, ao reconhecer que as eleições presidenciais zeraram o problema da deposição do presidente Manuel Zelaya, deixou patente a futilidade do alinhamento brasileiro com o dono do chapelão que há três meses adorna a embaixada em Tegucigalpa. A fixação antiamericana do Itamaraty é um chavismo de segunda.
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