Espiral de Teerã

Os manifestantes estão cada vez mais irritados, a repressão é cada vez mais pior, e os manifestantes estão cada vez mais com raiva. Enxágüe, repita.



Os protestos no Dia do Estudante em 7 de dezembro viu uma crescente radicalização - e a piora da repressão. Por Babak Dehghanpisheh Newsweek Web Exclusive

Durante meses, os líderes iranianos da oposição pediram ao governo para ganhar de volta a confiança das pessoas, permitindo aos manifestantes expressarem suas opiniões e organizar suas marchas pacíficas. Caso contrário, advertiram os líderes da oposição, os manifestantes só se tornarão mais radicais.

"Não há perigo à frente", advertiu em julho, o candidato presidencial Mir Hossein Moussavi. "Um regime que dependeu da confiança do povo durante 30 anos não pode depender das forças de segurança durante a noite ... Ainda podemos recuperar a confiança danificada do povo. A segurança do regime está vinculada a isto [esforço]. “Essas terríveis predições se tornaram verdade ontem, enquanto milhares de manifestantes entraram em confronto violento com as forças de segurança e gritavam palavras de ordem questionando o regime e a própria autoridade do líder supremo aiatolá Ali Khamenei, uma opinião que, mesmo bem depois da eleição, foi muito além do que foi publicamente admissível dizer. E como os protestos se tornam cada vez mais extremos, provocando repressão mais feroz, agravaram-se ainda mais os desacordos, em um efeito de espiral.

Os manifestantes se reuniram em Teerã e pelo menos em meia dúzia de outras cidades para comemorar o Dia do Estudante, que marca a morte de três estudantes em mãos das forças de segurança do xá, em 1953.

Tradicionalmente, o presidente vai para o campus de uma universidade de Teerã para fazer discurso para os alunos. O ex-presidente Mohammad Khatami em numerosas ocasiões esteve junto de uma multidão de estudantes no Dia do Estudante, durante seus dois mandatos. O presidente Mahmoud Ahmadinejad, que mostrou menor fidelidade à tradição ao longo dos anos (e cuja eleição impugnada junho do ano passado está no centro dos protestos em curso), não fez nenhum discurso até hoje. Entretanto, como em
outros protestos recentes, a oposição se apropriou da ocasião oficial para dar sua própria mensagem para ao mundo.

Os vídeos, fotos, relatos escritos e publicados pela oposição nos sites YouTube, mostram que os protestos estão se tomando mais radicais. "Khamenei és um assassino, sua autoridade está acabada" entoavam ontem em Teerã hoje. "A religião está separada da política, este é o nosso lema", outro slogan entoado. Mas talvez o grito mais impressionante tenha sido este: "Moussavi é uma desculpa, todo o regime é o nosso objetivo", uma referência à Moussavi, que é visto como um líder do movimento Verde.

A primeira onda da dissidência depois das eleições foi explicitamente centrada na fraude eleitoral, tanto a partir da crença genuína de que o sistema deveria investigar os resultados, como também para que os manifestantes não fossem acusados de tentar derrubar o sistema. Mas, como a repressão do governo aumentou, a posição da oposição começou a endurecer. As consignas de ontem são a indicação mais clara até agora de que pelo menos alguns elementos da oposição não apenas contestam os resultados da eleição presidencial, mas o próprio regime. Um vídeo publicado na Internet, ontem, mostrou um manifestante queimando fotos de Khamenei e Ahmadinejad.

A resposta das forças de segurança, que havia advertido aos manifestantes a permanecerem fora das ruas, foi dura: gás lacrimogêneo, cassetetes e tiros para o ar. Houve também relatos de milicianos Basij e funcionários de segurança à paisana invadindo vários campus universitários, o que é ilegal, a fim de confrontar os manifestantes estudantis. Várias prisões foram relatadas pela
agência de imprensa do governo.

Autoridades de segurança foram claramente antecipando-se aos problemas. Vários estudantes foram presos em todo o país nas últimas semanas, e muitos receberam ameaças por e-mails ou mensagens de texto. (As mensagens de texto diziam: “você já foi identificado devido à sua presença em um comício político, após as eleições. Você deve deixar de comparecer nos comícios tal.") O Ministério de imprensa, enviou uma mensagem aos jornalistas estrangeiros em Teerã ontem informando que os seus cartões de imprensa estavam revogados por três dias e que eles não tinham permissão para cobrir eventuais manifestações. E houve
relatos generalizados de falhas da Internet, juntamente com problemas na rede de telefonia celular.

Dentro do governo, há sérias divergências acerca de como os protestos em curso devem ser tratados. Ainda ontem, o aiatolá Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, um importante clérigo que havia se distanciado da oposição nos últimos meses, se pronunciou contra a dura repressão e explicou o porquê ele não havia falado com mais força. "Eu não estou em silêncio", disse a um grupo de estudantes em Mashhad. "A crítica construtiva não é tolerada no país. Não foi oportuno enviar os Basij e a Guarda Revolucionária para confrontar as pessoas." O líder da oposição Moussavi (cuja esposa ontem levou um spray de pimenta no rosto por um agente Basij) foi ainda mais explícito em um comunicado publicado em seu site ontem: "Vocês não toleram os comícios do Dia do Estudante. O que vão fazer no dia seguinte? " Como os manifestantes parecem estar cada mais radicais e o governo responde co mais radizalização, as coisas estão ficando cada vez pior no Irã.
NewsweekTradução de Arthur para o MOVCC


REAÇÃO MUNDIAL
A reação internacional à repressão foi imediata. Os EUA disseram que o Irã "ignora" os direitos constitucionais dos manifestantes. "A repressão permanente, as prisões arbitrárias e a condenação de pessoas por participação em manifestações pacíficas mostram um desrespeito aos direitos consagrados pela Constituição iraniana", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly.

O chanceler britânico, David Miliband, se disse preocupado e pediu que as autoridades iranianas "não sufoquem" as manifestações pacíficas da oposição. "Compartilho a preocupação de muita gente sobre o uso da força para sufocar as manifestações durante o Dia do Estudante", afirmou Miliband. O Estado

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