Qual é o maior interessado nessa pesquisa? Movcc/Gabriela
Por Josias de Souza - Folha Online
O Datafolha mostra que, associado à alta da inflação, o ‘Paloccigate’ produziu danos apenas à imagem de Dilma. A avaliação do governo manteve-se intacta.
Palocci foi à Casa Civil por imposição de Lula. Demorou a virar ex-ministro porque o ex-soberano quebrou lanças pelo ministro-milionário.
…Porém, subiu de 9% para 17% a taxa dos que esperam por dias piores.
Como se sabe, a democracia moderna é constituída por três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Sob Dilma Rousseff, emerge um quarto poder: Lula. Criou-se no imaginário popular uma espécie de puxadinhho do Planalto, de onde ex-soberano apita.
Acaba de sair do forno uma nova sondagem do Datafolha. Coletados na quinta (9) e na sexta (10), os dados estão frescos como quentes pão do dia.
Entre as novidades trazidas à luz, uma é especialmente inquietante: para 64% dos brasileiros, Lula deve, sim, imiscuir-se nas decisões da sucessora.
Mais: de cada cinco brasileiros, quatro acham que o ex-soberano já está metendo o bedelho na gestão da presidente que a popularidade dele elegeu.
Dito de outro modo: o grosso da população avalia que, sob a condução de Dilma, convém que Lula permaneça próximo do volante.
A imagem desse Lula tutor incomoda Dilma. Vem daí a decisão dela de aproveitar o expurgo de Antonio ‘Consultor’ Palocci para compor um Planalto à sua imagem.
O Datafolha mostra que, associado à alta da inflação, o ‘Paloccigate’ produziu danos apenas à imagem de Dilma. A avaliação do governo manteve-se intacta.
A grossa maioria dos 2.188 brasileiros ouvidos em todo país (60%) acha que o caso da multiplicação do patrimônio de Palocci prejudicou o governo.
A despeito disso, os entrevistados foram benevolentes com a administração Dilma: 49% aprovam a nova gestão. Em março, essa taxa era de 47%.
Porém, a crise roeu um naco do prestígio da presidente. Há dois meses, 79% viam em Dilma uma gestora “decidida”.
Hoje, confiam na capacidade decisória de Dilma 62% dos brasileiros. Uma queda de expressivos 17 pontos percentuais.
Os 23 dias de hesitação que precederam a demissão de Palocci têm muito a ver com isso. Por ironia, deve-se o prejuízo ao “custo Lula”.
Palocci foi à Casa Civil por imposição de Lula. Demorou a virar ex-ministro porque o ex-soberano quebrou lanças pelo ministro-milionário.
Os efeitos do equívoco foram como que tonificados pela facilidade de apreensão das informações que embalaram a crise.
Todo mundo sabe o que é multiplicar o patrimônio por 20. Qualquer criança de 5 anos entende que apartamento de R$ 6,6 milhões não é coisa para todo mundo.
Afora a elevação do contingente que duvida da capacidade de Dilma de tomar decisões, caiu de 85% para 76% a taxa dos que a consideram “muito inteligente”.
De resto, o Datafolha informa que, mesmo depois de tirar Palocci de seu caminho, Dilma tem diante de si outra pedra. Chama-se inflação.
A maioria absoluta dos patrícios (51%) crêem que os índices inflacionários continuarão subindo.
Quanto aos rumos da economia, 42% avaliam que vai melhorar nos próximos dois meses. Para 37%, a coisa ficará como está. Porém…
…Porém, subiu de 9% para 17% a taxa dos que esperam por dias piores.
Ruiu dez pontos percentuais –de 43% para 33%— o número de entrevistados que confiam no crescimento do poder de compra de seus contracheques.
Subiu de 27% para 32% o total dos que acham que o desemprego vai crescer nos próximos meses.
Os dados revelam, em essência, um início de reversão do cenário de bonança que marcou o final da Era Lula e azeitou o palanque de Dilma em 2010.
Dilma começa a pagar em índices de pesquisa a conta da atmosfera de gastança que lubrificou o seu triunfo sobre o rival tucano José Serra.
O governo vê-se diante de situação dicotômica: para segurar a inflação, tem de pisar no freio. A inevitável redução do PIB, envenena os humores da platéia.
Nem o mais histriônico oposicionista se anima a acusar Dilma de ser negligente com a sanha inflacionária.
Embora ela tenha alterado o método –tenta combinar alta de juros com as tais medidas “macroprudenciais”—, persegue o mesmo objetivo: deter a carestia.
O problema é que, tomada pelo Datafolha, Dilma convive com a pecha de presidente tutelada. Se acertar, dividirá o êxito com Lula.
Se errar, corre o risco de ouvir a "acusação" de que tomou distância de seu patrono, contrariando o desejo de quatro em cada cinco brasileiros.
Em campanha, Dilma escalou os ombros de Lula. Eleita, iniciou um movimento de descida ao remodelar o Planalto, na semana passada.
Ela dispõe agora de três anos e meio para provar que é capaz de governar o país sem o Lula que a maioria cética enxerga no puxadinho da Presidência.
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