Nuvem de lágrimas: toda mocinha de novela chora baldes de lágrimas, mas Paloma (Paolla Oliveira) não comove. E, para completar, é chamada de "Pamonha" nas redes sociais (Divulgação)
Patrícia Villalba - VEJA
Quanto Drama!
Entre os tantos tipos de mãe que frequentam as
novelas, a “mãe que perdeu um filho” é a que mais costuma provocar empatia no
público. Basta lembrar da Maria do Carmo, tão bem defendida por Susana Vieira
em Senhora
do Destino (2004),
ou da Odaísa, que fez Isadora Ribeiro marcar época em Explode
Coração (1995). Não
é preciso ter um coração mole para compartilhar do sofrimento da mãe que dá à
luz num banheiro sujo e, quando acorda, descobre que sua filha sumiu. Mas é
curioso como a trama de Amor
à Vida (Globo,
21h15) tem praticamente impedido qualquer tentativa do telespectador de se
aliar a Paloma (Paolla Oliveira). É impossível torcer por ela, ainda mais do
que pela Morena (Nanda Costa) de Salve
Jorge.
Paloma sente-se rejeitada e pensa ser a grande vítima
da novela, mas não passa de uma menina mimada pelo pai. Largou tudo por um amor
hippie, voltou grávida do Peru, mas não teve coragem para assumir. Deu as
costas para a família, foi atrás do namorado que a tratava mal e abandonada à
própria sorte, aos nove meses de gravidez. Anos depois, ao reencontrar a filha,
não deu qualquer chance para que Bruno (Malvino Salvador), o homem que dizia
amar, pudesse explicar sobre como salvou a menina da morte. Proibiu-o de ver a
menina que criou por 12 anos, sem pensar no sofrimento que causaria a todos os
envolvidos. Médica pediatra, ainda não parece ter nenhuma noção do que é a
cabeça de uma pré-adolescente. Agora, depois que o falso exame de DNA trouxe a
informação de que ela não é mãe de Paulinha (Klara Castanho), sente-se no
direito de bater à porta do ex-namorado com olhos marejados e de planejar
encontros escondidos com a menina – o que é, sem meias palavras, falta de
respeito.
Pelo que se viu até aqui, é uma mulher sem fibra.
Chamou a atenção o momento em que ela ficou noiva de Bruno, mas não quis
receber a família dele, humilde, em sua casa elegante. A justificativa foi a de
a mãe, Pilar (Susana Vieira), destrataria os convidados. Capítulos mais tarde,
veio à tona que Pilar e o pai de Bruno, Denizard (Fúlvio Stefanini), são amigos
de infância. O preconceito foi de quem, então? Não pegou bem para Paloma, mais
uma vez.
É recomendável e louvável que uma personagem de novela
tenha certa dose de humanidade. No fim das contas, são os erros das mocinhas
que fazem as tramas acontecerem. Mas deveria ser possível chegar às situações
planejadas pelo autor sem que a heroína parecesse uma biruta ao sabor do vento
soprado por Félix (Mateus Solano) e cujo “amor à vida” se resume à própria
existência, nunca a dos outros.
Paloma cismou que Paulinha é sua filha, embora o exame
de DNA mostre o contrário. Nós, no sofá, sabemos que o exame é falso e que a
menina é mesmo filha dela. Mas a mocinha não sabe. O que a leva, então, a
encasquetar com isso? Um sexto sentido de mãe, talvez? Pode ser. Mas que mãe
tão sensível é essa que não teve o mínimo tato ao comunicar à criança sobre
seus pais biológicos e que a manteve presa e longe da família que a criou?
A questão, é importante observar, não é se Paloma
parece real ou não. Certamente há centenas de Palomas por aí, figuras
vitimizadas que se apegam às mazelas e agem como se o mundo lhe devesse algo.
Para esse tipo de pessoa não há torcida. E para esse tipo de personagem, só
mesmo um apelido para descontrair – o da mocinha da novela das 9 é repetido
todas as noites nas redes sociais: Pamonha.
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