
ANEXO SECRETO
A agência de notícias Associated Press conseguiu botar as mãos num “anexo secreto” de documento da Agência Internacional de Energia Atômica sobre o estágio do programa nuclear do Irã. Por Newton Carlos
O documento foi considerado autêntico e suas conclusões apontam para um futuro sinistro. Não se trata só da bomba que o Irã diz não perseguir, mas que são sérias as suspeitas de que persegue. No “anexo secreto” consta que o Irã já está em condições de fabricar o que muitos chamam de “bomba islâmica”, o que não é correto quanto a essa marca, mas tudo indica que é correto quanto às conclusões envolvendo um mistério cada vez menos misterioso.
Se o Irã tiver a bomba, outros países árabes se lançarão em programas nucleares. Caso da Arábia Saudita. O Irã é xiita e quer ter o domínio sobre o Oriente Médio de maioria sunita. Foi por isso que Saddam Hussein, quando ditador do Iraque, travou com o Irã uma guerra sangrenta com o objetivo de tornar pó o xiismo na região. Teve apoio inclusive dos Estados Unidos, interessados em preservar o domínio sunita e até ampliá-lo. A operação falhou e hoje o Irã não só já teria no bolso condições de fabricar a bomba, como controla movimento islâmicos radicais, como o Hamas em Gaza e o Hesbollah no Líbano. O rei da Jordânia já previu uma onda xiita alcançando as fronteiras com Israel, que tentou destruir o Hesbollah e não conseguiu, apesar de ter um dos melhores exércitos do mundo.
Já se pensa num cenário pós-bomba do Irã, cujos traços apontam na direção de uma corrida armamentista no Oriente Médio, historicamente um barril de pólvora, agora envolvendo armas de destruição maciça. A Arábia Saudita tem dinheiro de sobra, dólares do petróleo, para sustentar programas com as mesmas ambições do Irã e a convicção é a de que não ficará de braços cruzados. Há outros componentes explosivos nesse quadro. O fracasso dos Estados Unidos em impor democracia à sua moda no Iraque abriu espaços cujo ocupante estrangeiro maior será o Irã. O Iraque tem maioria xiita, se liberta da opressão sunita, da época de Saddam Hussein e a ironia dessa história é que os Estados Unidos foram elementos decisivos, com sua máquina de guerra, na inversão. Graça a eles os xiitas se impõem no Iraque.
São maioria e já não enfrentam as mãos de ferro sunitas de Saddam Hussein. São, portanto, politicamente dominantes. Os Estados Unidos aceitaram inclusive que o Irã ajudasse na intermediação de negociações entre xiitas e sunitas no Iraque. Um Irã com a bomba será mais agressivo. Resta saber o que estará pensando Israel diante do “anexo secreto”. Já se sabe que ele está disposto a não permitir que o Irã tenha a bomba e insiste numa opção militar. Treina para isso e tem contado com ajuda, nesses treinos, de seu aliado estratégico, os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, americanos e europeus aumentam as pressões diplomáticas sobre o Irã para evitar, entre outras coisas, que decisões caiam em mãos de Israel. Caso a diplomacia falhe, e se confirme que o Irã tem a bomba ou está próximo de tê-la, Israel certamente bombardeará as instalações nucleares iranianas.
Desde que isso aconteça, e parece não se tratar de cenário não muito distante de uma realidade em curto prazo, irá por água abaixo o projeto de Barack Obama de dar passos concretos na direção de um universo desnuclearizado. Obama faz agrado à Rússia, a segunda maior potência nuclear, mandando arquivar o projeto do ex-presidente Bush de construção de um sistema de antifoguetes, na Europa. Quer amplo acordo internacional que fortaleça o Tratado de Não Proliferação Nuclear, que em breve será revisado. Promete reativar acordos de desarmamento. Mas as previsões parecem apontar em outra direção — não só o Irã com a bomba e Israel disposto a bombardeá-lo. As complicações no Afeganistão e a quase convicção, mesmo entre militares, de que os talibãs não serão derrotados numa guerra convencional, podem contaminar a fundo o Paquistão nuclear, onde radicais islâmicos fazem presença violenta cada vez maior.
Ao lado está a Índia, também nuclear, e pode acontecer o que os ingleses evitaram na época da independência, um confronto entre os indianos de maioria hindu e os paquistaneses de maioria muçulmana. A Índia tem sido alvo frequente de terroristas islâmicos e certamente não permitirá, mesmo sob a forma de possibilidade, que os radicais islâmicos, fortalecidos com vazamentos do Afeganistão, tenham acesso ao arsenal nuclear do Paquistão. Como? Só o futuro dirá. Não faltam, no entanto, hipóteses catastróficas. Alguns falam de juízo final. – Correio Braziliense
Um comentário:
E o Brasil é o caldeirao de Satanás.
Aqui vem tudo o que nao presta.
Postar um comentário